domingo, junho 18, 2006

OS TRÊS FUNDAMENTOS DA ESCOLA DE TEATRO

Especial 50 anos
Por Jussilene Santana

ARTIGO DE ABERTURA
No próximo dia 13 de junho, a Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia comemora 50 anos. Em meio século de história, se tem muito para contar desta unidade que formou nomes de projeção nacional como Sônia dos Humildes, Othon Bastos, Geraldo Del Rey, Helena Ignez, Harildo Déda, Nilda Spencer... Muitos deles atuantes no Cinema Novo. E que, mais recentemente, projetou nomes televisivos como Wladimir Brichta e Wagner Moura. Quantos professores e diretores não passaram pela instituição? Quantos alunos nela não se formaram? Anônimos nacionais ou famosos locais, todos fizeram com que estes 50 anos de Teatro fossem possíveis.

Apesar disso, a proposta deste ensaio é ressaltar - mais do que nomes – idéias e ideais. Afinal de contas, os valores é que são eternos, podendo reencarnar (ou não) em homens perecíveis. E teatro é arte coletiva, num só artista reconhecemos todos os outros que o formaram. O texto não pretende contar a história destes 50 anos – uma empreitada ainda a ser defendida –, mas investiga, nos seus cinco primeiros anos, os fundamentos que lhe movem. Um busca por princípios, no princípio.

O ensaio parte da criação da Escola de Teatro, em 1956, e arrisca levantar três pilares fundamentais que dariam o significado e o caráter desta empreitada, ainda hoje única em relação a outras iniciativas do Brasil: o teatro é prática; o teatro é profissão; e o teatro é moderno.

No livro Avant-garde na Bahia, Antônio Risério relativiza o papel pioneiro da Escola de Teatro. Para tanto ele se baseia nos comentários reacionários publicados pela imprensa contra o projeto de Martim Gonçalves. Tendo como base um levantamento de mais de duas mil fotos e matérias sobre o período, tento resgatar episódios que a crítica “esqueceu” de relatar e que dão a profundidade do diálogo que a Escola empreendeu entre as linguagens internacionais e as tradições populares. Diálogo com o objetivo único de transformá-los em ‘peças para o público’.

Nota-se, para além dos anos, que da Escola exigem-se ações que, como instituição, ela não se dispôs a realizar. A Escola se propõe a ensinar métodos e técnicas. Mas, assim como ela é a mãe do teatro baiano, nela também recaem as origens e as causas de todos os males das artes cênicas locais. Veremos que isto acontece porque, ao contrário de suas congêneres do país, ela se insere entre as produtoras de peças profissionais do circuito. Grande agente de um estado pobre em políticas culturais, a Escola se torna uma real possibilidade para a viabilização de projetos na área. Fora dela ou, sem seu apoio, as coisas ficam ainda mais complicadas. Daí que tantas idéias a circundem.

Em paralelo a isso, como as demais unidades da universidade brasileira, não há mais unidade de pensamento no corpo de professores que compõem seus quadros. Ou melhor, não há UMA Escola de Teatro. Há várias. Cada uma delas, contemporaneamente acionando tradições e técnicas diferentes, contudo, com um PASSADO em comum. Para além destas questões, uma coisa talvez seja certa: só iremos encontrar nela nos próximos 50 anos, aquilo que formos capazes de lhe dar.

Jussilene Santana é atriz, jornalista e mestre em Artes Cênicas pelo PPGAC/Ufba. Defendeu dissertação sobre a cobertura jornalística do teatro na Bahia, entre os anos de 1956 e 1961. Melhor atriz pelo Prêmio Braskem de Teatro 2005 e Prêmio Banco do Brasil de melhor reportagem em 2002. junesantana@ig.com.br

4 comentários:

Unknown disse...

Olá Jussilene. Bacana encontrar esse blog e essa produção reflexiva sobre os 50 anos de nossa escola. Vou inclusive colocar um link no meu blog para a sua página. Tb sou jornalista, estudante da graduação em artes cênicas e tenho um blog sobre teatro (http:casadaatriz.blogspot.com)
Um abraço, Mônica

Anônimo disse...

covardia, juntar jussilene e gil vicente... é pra matar os outros, é?
adorei a idéia, a competência e a crença no diálogo inteligente. só vcs, mesmo.
me convidem pra uma prosa... viu?
beijos

Anônimo disse...

Conforme eu disse na minha defesa "é muito difícil ser orientada por alguém de quem se é fã". De novo Hackler conseguiu, em rápidas linhas, fazer uma síntese inteligente destes 50 anos de Escola de Teatro.
Dos 50, tive a honra de contribuir diretamente por 5 anos de trabalho - voltado para o desenvolvimento de técnicas de expressão vocal e dicção de atores. Deste lugar, adjetivos e substantivos à parte: Que general inventou que entretenimento não prevê questionamento? Em que lugar da Bahia e do Brasil perdemos a capacidade de olhar em torno, ouvir e perguntar, para nos conformarmos com o mero “ser engraçadinho”? Entretenimento é incompatível com pensamento crítico? E o pior: Por quê, para ser engraçadinho, se precisa abrir mão do aprimoramento técnico? (que é complexo, extenuante e repleto de detalhes – e olhe que estou me referindo apenas à preparação da palavra cênica!).
A resposta pode estar no termo “investimento”. Cada omissão de investimento – venha lá de onde for – resulta em desperdício de tempo e desvalorização do investimento de quem não se omitiu e estava lá, preenchendo o momento. Esta é a canoa a qual pertencem Fernanda Montenegro, Paulo Autran e também Arildo Deda, Nilda Spencer e Gideon Rosa, por exemplo. Esta categoria de atores, que investem tempo, vida e esforço em busca do aprimoramento técnico capaz de transformar ofício em arte, acaba ficando solitária num país onde ser passatempo basta.
Aí alguém se ofende: – “Passatempo, eu”?
Como o ato de sonhar com o “PLIN PLIN” pôde constituir-se num dos maiores fatores motivacionais para o jovem ator? Por causa do reconhecimento e porque não? – do contrato! Mas, sem partirmos de uma realidade (bem dura, por sinal) de dedicação para o aprimoramento, com o que poderemos colaborar para que os plin-plins futuros sejam melhores que os atuais? - (Santo Deus! Me ocorreu agora que muitos dos nossos jovens atores devem sonhar com Malhação, enquanto eu sonho em preparar um Iago! – ai: esqueci que o ministro quer banir Shakespeare!).
Nos 50 anos da Escola de Teatro, mesmo ausente do convívio direto com os alunos, em aula, insisto que o melhor investimento deve ser feito naquilo que sempre foi a sua essência: a capacidade humana de observar o mundo para recriá-lo para alguém e, através disto, ser estimulante, instigante, repugnante – ou humano, como somos todos.
- Só isto.
- Tudo isto?!
- É isto!
No mais: te amo, Hackler.
Ana Ribeiro

Anônimo disse...

Obrigado por Blog intiresny