terça-feira, março 31, 2009

Os Males do Tabaco na opinião da platéia...

"Achei a idéia interessante, inovadora, que tem muito pano para manga ainda. O cinema tem um grande público que o teatro não tem ainda. Quando a gente junta as duas coisas acaba conquistando pessoas que não têm costume de ir ao teatro. Senti que a esquete antes do filme não fere a real finalidade do cinema. O tempo foi legal e o cenário não atrapalha o filme depois. A atuação de Marcelo é ótima! Adorei. O texto é ótimo, por que acaba não falando dos males do tabaco, mas dos males dele. Acho até que as pessoas se interessam mais de ouvir a desgraça alheia do que os males do tabaco. Eu gosto muito de trailer e estava com medo que não tivesse o trailer, já que para mim é uma atração a parte. Fiquei contente que não substituiu. Achei só as pessoas meio inquietas, conversando, trocando de lugar. Isso atrapalhou. Faltou a participação da platéia como platéia de teatro."


Diogo Watanabe, Engenheiro Químico e Ator.

quinta-feira, março 26, 2009

Teatro ou cinema? Vá ao dois!



Os Males do Tabaco
Dir: Gil Vicente Tavares Prod: BRASIL, 2009. Dur: aprox. 20’.
Classif: 14. Elenco: Marcelo Praddo. Sinopse: Homem de meia idade é convidado a dar uma conferência intitulada “Os males que acarreta à humanidade o uso do tabaco”. Entretanto, o conferencista desvia-se do tema e acaba desabafando sobre os problemas de sua vida. Do mesmo diretor de “Os Javalis”.



O Visitante
Dir: Thomas McCarthy Prod: EUA, 2007 Dur: aprox 108’.Sinopse: Walter Vale (Jenkins), um professor de Economia de Connecticut, precisa ir a Nova York para uma conferência. Porém, descobre que tem um casal morando em seu apartamento: Tarek (Sleiman) e Zainab (Danai), imigrantes ilegais que tocam suas vidas normalmente na Big Apple. Após um habitual período de desentendimentos, o professor acaba propondo abrigo para eles em seu apartamento e, aos poucos, vai se envolvendo com essas pessoas e com o tambor sírio, instrumento que Tarek toca.



domingo, março 22, 2009

Entrevista de Jussilene Santana para a revista MUITO (22/03/2009)

Jussilene Santana fala de Joana D´Arc e muito mais

Katherine Funke

Márcio Lima Divulgação
Este ano, ninguém discorda, é dela. Jussilene Santana vai ser mãe. De uma menina. E de uma grande personagem. Quando fizemos a entrevista, no dia seguinte ao lançamento do seu livro Impressões Modernas - Teatro e Jornalismo na Bahia, ela estava com a corda toda. Não para menos. Além de se preparar para encenar Joana D' Arc no teatro, a atriz e jornalista vai estrear em breve no cinema - e logo em três longas-metragens baianos. Quem não a viu em ação nos palcos ainda tem chance de conhecê-la. No segundo semestre, o espetáculo sobre a soldada francesa Joana D´Arc será encenado em teatros baianos. Faz poucos meses, Jussilene mora no Rio de Janeiro. Tudo indica que, se os ventos continuarem tão bons, essa baiana em breve será conhecida de um público mais vasto. Leia a seguir alguns dos principais trechos da entrevista, concedida entre sucos e sanduíches, no Rio Vermelho:
TRAJETÓRIA - "Eu sou uma atriz com vários começos: fiz teatro na Igreja de São Caetano, na Escola Técnica, nas oficinas da Fundação Cultural... Mas o clic só se deu com a minha entrada na Escola de Teatro, pelo XII Curso Livre, em 1995, porque nela conheci um grande número de atores e diretores que faziam do teatro uma profissão e não um hobby. Ser atriz é, sobretudo, ter 2.500 anos de idade. Com uma memória transmitida pelas centenas de textos gregos, suecos, russos e americanos, por autores de diferentes latitudes e épocas. Ser atriz é ser herdeira de uma tradição e ter uma dívida imensa com os mortos."
PRÊMIOS - "O Braskem não é o Oscar, um prêmio que funciona como uma vitrine dos melhores do mercado. Não é um trampolim para que carreiras deslanchem a partir dos novos convites que surgirem desta projeção. Uma vitrine assim só funciona em estruturas organizadas, o que não é o caso de Salvador. Nesta cidade o Braskem e a área teatral estão cada vez mais marginalizados da vida social. Antes o Braskem ainda tinha certo peso porque tentava avaliar a poética dos produtos apresentados. Mas o perfil do prêmio mudou consideravelmente nos últimos anos. Hoje ele é mais um prêmio que contempla as ações extra-palco do indivíduo, como o esforço que ele teve para chegar até ali, seu tempo de carreira, a dedicação como artista ou se ele é alvo de alguma exclusão social e que, por isto, deve ser "recompensado". Sinal dos tempos. Se o Braskem fosse avaliar só as questões técnicas e poéticas do fazer teatral teria que encarar a dura realidade de deixar várias categorias sem indicados."
MESTRES - "Tenho mestres, graças a Deus. O diretor e cenógrafo Ewald Hackler é um deles. Porque ele é extremamente sensível e generoso com o ator, jamais o abandonando às feras. E é extremamente exigente. Cansamos de trabalhar noites seguidas em uma única fala, um único gesto, exatamente para transformá-lo em único, inesquecível para quem assiste. Ele também tem um senso de humor aguçadíssimo e é simplesmente a pessoa que assistiu/ouviu mais peças, filmes e músicas que eu conheço, transformando todo o trabalho de ensaios num encontro prazeroso. Outro mestre é Martim Gonçalves, o tema do meu doutorado, por ter implantado nesta cidade a noção de profissão em teatro, mas, sobretudo por ter sido um homem de teatro que defendeu a arte teatral contra todas as adversidades que encontrou. A atriz Yumara Rodrigues porque, acreditem, ela é a melhor. Mas meus mestres também vêm de outras áreas: o cineasta alemão Ernest Lubitsch, pela malícia e ironia de seus filmes; o escritor americano Kurt Vonnegut, pela incrível mistura de desespero, piedade e esperança com os seres humanos. E a cantora americana Ella Fitzgerald, pelo domínio com a técnica vocal e pela articulação impecável."
NA CONTRAMÃO - "Demorei muito tempo para sair do século XIX, século do teatro e da escrita. A base da minha formação e da minha sensibilidade é formada por eles. Quando comecei a cair no século XX, do cinema, do rádio e da TV, praticamente pulei para o XXI, dos blogs, podcasts e softwares sociais. Isto tudo a despeito de reconhecer que é a mídia massiva ainda é a que mais legitima artistas para o público. O teatro tem sido, há muito tempo, uma atividade de resistência, para quem faz e quem assiste. O teatro é uma atividade artesanal, de alcance pequeno se compararmos com a audiência da TV, com o público do cinema... Por isto estará sempre na contramão da indústria cultural e vai ser sempre ser exercido por aqueles artistas que acham que existem experiências que só o teatro pode proporcionar, como a urgência, a força e a fragilidade da presença humana."
MUDANÇA PARA O RIO - "Para mim, o de Rio de Janeiro é um prato cheio porque tenho muitos contatos lá. Mas sou muito baiana e meus interesses ainda estou ligados com aqui. Tive muita resistência para fazer uma ponte aérea como essa, porque acho que salvador precisa de tanta coisa... Mas minha consciência está super tranquila, porque em todas as dimensões que trabalho, que são da cultura e da comunicação, estão muitas voltadas para a Bahia"
TALENTO - "Os talentos não florescem como flores, margaridas selvagens. Eles precisam de estrutura para evoluir e criar outras relações. O que eu vejo é que nos últimos 50 anos existiram dois momentos onde essa estrutura de fato aconteceu: dos anos 50 para os 60 e nos anos 90. O resto era o teatro à própria sorte, marginalizado, sem conseguir dialogar com a sociedade. Tenho muitos colegas talentosos e atores novos surgindo, mas o talento sozinho não é nada. Se o talento não é trabalhado, a pessoa se decepciona, se enfraquece. Não é todo mundo que tem energia para viver às próprias custas."
FAMÍLIA - "Meu pai é verdureiro da Feira de São Joaquim. Minha mãe nunca estudou. Ela veio do interior, de Mutuípe, trabalhar em casa de família. Minha mãe sempre fez bolos, tortas maravilhosas. Meu pai sempre trabalhou com comércio, venda de frutas e verduras. Ele pai comprava quilos de revistas, jornais e livros para embalar as frutas e lascava tudo sem ler. Eu pedia: painho, lasque não!, e separava pilhas de jornais. Meu irmão ajudava na venda, pesava farinha, ficava no caixa. E eu só dava prejuízo..."
INFÂNCIA - "Fui criada em São Caetano. Brinquei muito de rua. Depois, comecei a dar banca. Eu tinha a maior biblioteca de São Caetano, na época. a igreja me ajudou a me levar. A vida para mim girava em torno de São caetano até os 14 anos. Eu ia para a praia e voltava, não conseguia dialogar com a cidade. Foi Frei Calixto, lá da igreja de São Caeatno, que apresentou a cidade. ele realmente me ajudou, literalmente me pegou pela mão e a gente visitava igrejas, museus. Aí, lá eu pegava um panfletinho, via um cartaz e pronto, outro mundo se abria..."
CARREIRA - "Nunca fiz comédia. Durante sete anos, só fiz personagens da década de 50 para cá, sérias, sofredoras, porque eu adoro chorar. Será que eu tenho cara de mulher sofredora? (risos). Shopping and fucking foi o ponto de mudança. Já tinha um toque de humor. As pessoas disseram que nunca me imaginavam fazendo aquilo. Que massa! Era justamente o que eu queria!"
JOANA D' ARC - "Existem guerras justas e meios justos. Todo mundo que me conhece de fato e me acha agressiva, sabe que eu só uso a frente. Eu beiro a ingenuidade, às vezes. De mim você não pode esperar uma facada. A Joana D´Arc ganha e depois perde a guerra por causa disso. Ela é uma menina de 17 anos que ouve vozes e não tem estratégia. Ela só anda em linha reta. E ninguém estava esperando quem viesse de frente com tudo. Ela conquista Orleans, himes, só que depois cai. O estandarte dela era todo branco. Ela não tinha nenhuma insígnia ou bandeira. É exatamente por isso que está aberta a tantas leituras: é uma batalha de energia e força que abre caminhos"
DESABAFO - "Às vezes, acho que perco meu tempo assistindo teatro. Não mais uma espectadora muito freqüente, pois me decepciono muito com o que vejo, e não gosto de muita coisa. Começo a ver que a pessoas estão jogadas aí, estão aprendendo com elas mesmas, à própria sorte. A chance que você tem de ser bom é que você chupou de alguém. É a mimesis e desde Aristófanes (447 a.C. - 385 a.C.) isso não é segredo. Por isso, Martin Gonçalves misturava atores experimentes com novatos: para não se ficar inventando tudo do zero. Tem gente com talento para caramba repetindo erros, e se atuassem dois dias com ator experiente certamente aprenderiam muito".

segunda-feira, março 16, 2009

De onde vem a graça?

O ensaio parou. Todos discutiam sobre o humor de Tchekhov como se falassem de um amigo muito próximo. O que há de engraçado em Tchekhov? O que é ser engraçado? Foi então que me questionei a universalidade do humor. É possível nós brasileiros, com todos os atributos que nossa cultura nos impõe, rirmos de situações ambientadas na Rússia do final do século 17?

A partir dessa reflexão encontrei dois artigos[i] que trazem os pontos de vistas de dois pensadores (sobre os quais, devo confessar, me interesso muito): Freud e Pirandello. Sobre o humor, Pirandello destaca a presença de elementos contraditórios, como uma espécie de divisão do espírito. E um dos recursos para tornar isso claro são as digressões das personagens. O diálogo direto com o espectador.

Em seu trabalho, Freud coloca que a essência do humor consiste em transformar sentimentos penosos em espirituosos. Corresponde a um mecanismo de defesa, onde o espectador, através da identificação com a personagem, poupa seu sofrimento através dos jogos estabelecidos em cena. “O principal é a intenção que o humor transmite, esteja agindo em relação quer ao eu quer as outras pessoas. Significa: ‘Olhem! Aqui está o mundo, que parece tão perigoso! Não passa de um jogo de crianças, digno apenas de que brinque com ele!” (Freud apud Moneta e Garcia)

De certo modo, tanto o italiano como o austríaco apontam o humor como um conjunto de situações e sensações contraditórias, dor e alegria, afeto e ódio, choro e risada. Mas me parece que o elemento “surpresa”, a reação dessas situações, é que dá a sensação humorística, de prazer para a platéia.

A questão cultural é importante, na medida em que ela permite que o espectador se identifique com a personagem. A linguagem, os trejeitos, as referências culturais, facilitam essa identificação. Mas as contradições da personagem são independentes da cultura que ela está inserida, isso se realmente existir uma psicologia “universal”. (acredito eu, fazendo um recorte no pensamento ocidental).

Assim concluo: a obra de Tchekhov tem o foco no desenvolvimento de suas personagens, nas relações estabelecidas entre elas, mais do que a relação com o ambiente social da época, possibilitando o “aculturamento” e a “atemporalidade” das mesmas. Com isso, acho possível um baiano rir do russo, antes de tudo por que ele o identifica como indivíduo, não como uma cultura. Ou seja, a chave do humor não é explorar o caricato ou os trejeitos baianos vendidos pela televisão, é surpreender o indivíduo.

Renata

[i] Pontos de vista sobre o humor : Pirandello e Freud. Lima, Denise Maria de Oliveira (http://pepsic.bvs-psi.org.br/pdf/cogito/v6/v6a21.pdf)
Humor, surrealismo e absurdo na obra da Alejandra Pizarnik. Moneta Carignano, M.L. e García Menéndez, A.J. (
http://www.ip.usp.br/laboratorios/lapa/versaoportugues/2c64a.pdf)

sábado, março 14, 2009

Glauber aos 70...

Hoje, dia 14 de março, Glauber Rocha faria 70 anos de idade. No mesmo dia de Castro Alves.

Glauber sempre disse que morreria com a idade inversa do grande poeta brasileiro. Castro Alves morreu com 24. Glauber, como havia vaticinado, com 42.

Hoje, dia 14 de março de 2009, a Bahia demonstra como valoriza seus grandes artistas. Basta ver a programação local referente aos 70 anos de nascimento de um dos mais controversos e criativos cineastas da história do cinema mundial.

Muitos dizem que Glauber não suportaria viver os dias de hoje. As discussões acaloradas que marcaram seus 42 anos de vida hoje seriam bravatas de um homem só. Possivelmente abandonado, reflexo de um Brasil que passou. Costumamos matar nossos “heróis” para louvarmos no túmulo. Um herói vivo é inconveniente, pois diz verdades que, morto, servem como frases para camisetas, citação para artigos e livros. Outro baiano esquecido pelo Bahia, Dias Gomes, metaforizou isso muito bem em sua peça O berço do herói, que viria a se tornar a novela Roque Santeiro, tempos depois. Outro autor que soube, como Glauber, manter um saudável e avançado diálogo com a cultura tradicional, mas transubstanciando tudo isso em arte.

Quais são os reais valores de nossa cultura? A cultura do povo existe, se transforma e se renova a despeito do incentivo do capital privado e da verba pública. As procissões religiosas, as manifestações tradicionais e as festas de largo existirão pelo e para o povo, e são autênticas e legítimas assim.

Mas um povo sem outra cultura que não a que emana naturalmente de si – que lhe é inerente por tradição e espontaneidade – é um povo que não comemora os 70 anos de nascimento de Glauber Rocha. Se ao povo não lhe é dado esse conhecimento, se ao povo não lhe é dada outra cultura, seremos eternamente exóticos seres folclóricos? Que cidade nós queremos para o século XXI?

Que valor nós damos à nossa arte?



GVT.

quinta-feira, março 12, 2009

Tchekhov por Cláudia Barral

Shakespeare decifrou o enigma humano.
Tchekhov não foi um decifrador de enigmas, não foi leitor de mandalas, não foi um mago da existência. Apenas Shakespeare pôde fazer isso com tamanha maestria e, depois dele, Beckett.

Tchekhov foi um pintor de retratos.
Se os textos de Shakespeare, na atemporalidade do teatro, nos mostram como o homem verdadeiramente é, o teatro de Tchekhov nos dá o painel de como o homem definitivamente parece ser. E diante do retrato, diante do espelho russo, ficamos como o Cláudio da peça Hamlet: denunciados. Trememos.

Abaixo, trechos de duas cartas de Gorki para Anton Tchekhov; a primeira data da segunda quinzena de novembro de 1898 e a segunda de 5 de maio de 1899.

[...]
Alguns dias atrás, assisti a Tio Vânia. Vi e chorei como uma mulher, embora esteja longe de ser uma pessoa nervosa. Entrei em casa aturdido, transtornado por sua peça; escrevi uma longa carta para o senhor e rasguei-a. Não se pode dizer com clareza o que a peça desperta no fundo da alma, é só um sentimento, mas olhando suas personagens em cena, parecia que um serrote sem fio me cortava todo. Os dentes passavam direto pelo coração, que se contraía, gemia, despedaçava-se. Para mim, é formidável que Tio Vânia seja uma forma de teatro completamente nova, um martelo com o qual o senhor bate na cabeça vazia do público. De qualquer jeito, o público é invencível na sua estupidez e ele o compreende mal n’A Gaivota e no Tio Vânia. O senhor escreverá outros dramas? O senhor os faz admiravelmente!
No último ato de Vânia, quando o doutor, depois de uma longa pausa, fala do calor da África, comecei a tremer de êxtase diante de seu gênio e de medo pela humanidade, pela nossa existência incolor e miserável. Como o senhor golpeia aqui vigorosamente o coração e o como o faz de maneira precisa! O senhor tem um enorme talento. Mas, diga-me, que prego quer cravar com tais golpes? O senhor ressuscitará o homem assim? Somos seres desprezíveis – sim, realmente, pessoas enfadonhas, rabugentas, repugnantes; e é necessário ser um monstro de virtude para amar, lastimar, ajudar a viver essas nulidades que somos. Mas, mesmo assim, os homens causam piedade. Eu, que estou longe de ser um homem de virtude, soluçava vendo Vânia e os outros com ele, se bem que seja completamente estúpido soluçar e, ainda mais, confessá-lo. Parece-me, veja o senhor, que nessa peça o senhor trata os homens com a frieza do demônio. O senhor é indiferente como a neve, como a tormenta. Perdoe-me, talvez eu esteja enganado, em todo caso, falo somente de minhas impressões pessoais. Mas, veja, sua peça deixou em mim um medo, uma angústia semelhante à que sentia em minha infância. [...]

[...]
Como é estranho que a literatura russa, tão vigorosa, ignore o simbolismo e sua tentativa de tratar de problemas essenciais, de problemas da alma.
Na Inglaterra há Shelley, Byron, Shakespeare – A Tempestade, O Sonho –; na Alemanha, Goethe, Hauptmann; na França, Flaubert – A Tentação de Santo Antônio –; entre nós, somente Dostoiésvski ousou escrever a Lenda do Grande Inquisitor – e isso é tudo. Será que somos, por natureza, realistas?
[...]

Tchekhov respondeu às cartas de Gorki agradecendo aos elogios, comentando o trabalho do colega, indicando a leitura de outras peças. Mas não respondeu a nenhuma de suas perguntas. A Tchekhov parecia bastar suscitar as dúvidas e não as esclarecer. E com o peito repleto de dúvidas o homem se movimenta, busca a sua clareza, as suas respostas individuais. Diante da crueza do retrato o homem se questiona e, sozinho, decide. E assim ele é deus, quando se enxerga.




Cláudia Barral


segunda-feira, março 09, 2009

“ SEI ESCREVER CURTO SOBRE COISAS LONGAS” (Tchekhov)


Teatro Nu invade o espaço da sétima arte trazendo o humor e a crítica de um dos mais famosos dramaturgos russos: Tchekhov.

Anton Pavlotich Tchekhov nasceu em janeiro de 1860 em Taganroe, Rússia, e faleceu em julho de 1904 em Badenweiler, Alemanha, vítima de tuberculose. Terceiro dos seis filhos do comerciante Pável Iegórovitch Tchekhov, quando pequeno trabalhou com o pai na mercearia da família.

Em 1879, após concluir o liceu, Tchekhov foi para Moscou viver com a família, que três anos antes havia se transferido devido a uma situação financeira precária.

Tchekhov licenciou-se em medicina pela Universidade de Moscou em 1884 e exerceu a profissão, na zona rural, por alguns anos. Em paralelo a universidade, Tchekhov produzia uma série de textos, contos e histórias para revistas encomendados por editores. Nesse período, sua obra era marcada por textos que representavam os vícios da sociedade através do humor.

Em 1886, escreveu a sua primeira peça curta, gênero também chamado de Vaudeville, Os Males do Tabaco e em 1888 O Urso e O pedido de casamento. Neste mesmo ano, sua obra A Estepe rendeu-lhe o prêmio Pushkin de literatura.

Conhecido pelo seu realismo e humor concreto, sua produção posterior concentrou-se na dramaturgia que, através do Teatro de Arte Moscou, o consagrou por todo mundo: A gaivota (1895), Tio Vânia (1897), Três Irmãs (1901) e O Jardim da Cerejeiras (1904).

sexta-feira, março 06, 2009

Teatro da vida; pessoas e lembranças I

O Teatro Nu acaba de ganhar Edital nº 22/2008 – Jurema Penna de Apoio à Circulação de Espetáculos de Teatro no Estado da Bahia. E esse edital, com esse nome, traz várias lembranças.

Jurema, falecida já há alguns anos, era muito amiga da minha família. Sempre me estimulava ao fazer teatral e musical, e um dos primeiros espetáculos baianos que vi, quando retornei em 1998 pra Salvador, foi O Bonequeiro Vitalino, auto de natal escrito por Jurema Penna e com Carlos Betão no elenco.

Betão participou do projeto Chapéu de Palha, quando morava em Itabuna, e de lá vieram, além dele, Jackson Costa, Fábio Lago e tantos outros. Era um projeto de oficinas, de aproximação teatral entre capital e interior, e futuramente Betão e mais alguns seriam colegas de minha mãe, Kátia Alexandria, na Fundação Cultural do Estado da Bahia.


Freqüentei muito esse lugar, conheci Betão e Jurema desde a pré-adolescência, e agora a peça Os Javalis ganha esse edital para circular pelo interior. Belo caminho de volta. Bela homenagem que todos nós fazemos entre nós.

Teatro da vida; pessoas e lembranças II

Álvaro Guimarães foi notadamente uma figura importante para o Brasil. Falecido no final do ano passado, Alvinho, como era chamado, traz em sua história nada mais do que a iniciação dos famosos irmãos Bethania e Caetano, pra começo de conversa, e foi figura marcante no teatro baiano dos anos 60 e 70.

Tendo sido diretor teatral, cineasta, dramaturgo e até apresentador de TV – na Bahia muitos podem se lembrar de seu programa Acerte no Álvaro – Alvinho marcou também minha carreira. Na foto, um dos raros momentos de minha vida onde subi ao palco, e mais raro ainda por ter cantado – algo desaconselhável aos ouvidos mais educados.

Alvinho me via tocar e dizia que eu tinha que olhar as pessoas, enquanto tocava, pra seduzi-las, e me estimulava, supervalorizava minhas primeiras composições e até me chamou pra compor o tema de um troféu que ele havia criado. Era o troféu Catarina Paraguaçu, concedido a grandes mulheres da Bahia, entre as quais, se não me falha a memória, Jurema Penna. Compus, ousadamente, um tema para dois violões e contrabaixo acústico, e Alvinho sempre orgulhoso de seu sobrinho; que era como ele me chamava.

Anos depois, ainda pude tê-lo por perto nos ensaios de uma homenagem a Castro Alves, no trabalho de dramaturgista que fiz de uma peça sua – Jung, do divã ao divino – momento onde eu sentia que ele me queria por perto, e depois Alvinho sumiu. Foi pro interior, e ouvia falar, esporadicamente, alguma notícia a seu respeito.

E assim, distante, ele partiu.

Teatro da vida; pessoas e lembranças III

Discutindo sobre nosso novo projeto, Teatronucinema, há duas semanas, Eduardo Tudella me disse que tinha uma encomenda pra mim em seu carro. Era uma manga do sítio de Claudete Eloy, em Rio de Contas.

Claudete foi minha professora de maquiagem e figurino. Responsável por trabalhos memoráveis na Escola de Teatro da UFBA, Claudete resolveu pedir licença sem vencimento e foi morar num sítio sem luz elétrica. Mora até hoje, lá, e esse pequeno gesto de me enviar uma manga me emocionou, por tudo que ele representou naquele momento, pra mim. Dias depois, acabo encontrando com a mesma Claudete na Escola de Teatro, ela tinha vindo em Salvador, e pude agradecer ao vivo, com um abraço carinhoso, aquela manga, aquele encontro. Agradecer àquela mulher.

Sobretudo, porque antes de sua licença, tive a honra de contar com seu talento em meu espetáculo de formatura, Quartett. Figurinos e maquiagem primorosos, foi de Claudete a idéia de botar os atores carecas, seguindo a minha concepção que corroborava a intenção de Heiner Muller, de situar a peça num salão antes da Revolução Francesa ao mesmo tempo que numa casamata após a terceira guerra mundial. A idéia da radioatividade, bem como a cor branca, quase morta, dos atores Harildo Déda e Joana Schnitman reforçavam minha concepção, bem como a luz e o cenário de outro professor que trabalhou na montagem, Eduardo Tudella.

Lembro de ter recebido abraços calorosos na estréia do espetáculo. Mas um me marcou, mais do que os outros, pela simbologia toda que girava em torno daquilo. Era Jurema Penna, que emocionada abraçava seu sobrinho e seu quase futuro colega de profissão.

Quase, porque Juju, como a chamávamos, havia me convidado para dirigir um texto seu, Procurando Maria, e chegamos a conversar com Eliana Pedroso e sondar algumas atrizes. Era incrível a confiança e desprendimento de Jurema. Ela me autorizou a cortar, mudar o texto. O que ela queria era fazer teatro. E havia me chamado para dirigi-la.

Três pessoas importantes. Duas que partiram, mas ficaram em mim. Uma que está aqui, mesmo estando em Rio de Contas.

Três pessoas que ajudaram a criar esse rascunho de artista que sou.


GVT.

quinta-feira, março 05, 2009

TCHEKHOV NU CINEMA

TEATRO NU CINEMA – MOSTRA TCHEKHOV é o mais novo projeto do Teatro Nu, aprovado pelo Fundo de Cultura da Bahia - FCBA, que levará o teatro ao cinema. Serão apresentadas na Sala de Arte da UFBA, as peças curtas de Tchekhov: “Os males do tabaco”, “O urso” e “O pedido de casamento”.

Direção: Gil Vicente Tavares
Com: Carlos Betão, Fafá Menezes e Marcelo Praddo.

De 27 de março a 12 de abril.
A cada final de semana uma peça diferente!