segunda-feira, agosto 16, 2010

A pobreza cultural de Salvador


Há um equívoco grave em relação ao que se pensa sobre a cultura, em Salvador.

Por conta desse pensamento comiserado de incensar os oprimidos – doença nefasta que é um dos grandes equívocos reforçados pela era Lula – a exaltação da cultura própria, endógena, popular, chegou a uma hiperbólica cegueira sobre a pobreza cultural que nos assola.

Todos os países intelectualmente espertos souberam dialogar com outras culturas, outros povos, outros modos de produção, criação e identidade, para se reinventarem. Há, ao redor do mundo,  programas de intercâmbio, de residência e de estudos de outras culturas que fazem com que, dessa mistura, possam florescer novas formas de pensar, de agir e de criar.

Aqui, em Salvador, há esse pensamento equivocado de que somos uma cultura forte e rica. Mentira. Somos uma cultura fraca e pobre, justamente porque nos fechamos em nossa própria cultura, folclorizando e exaltando ela como algo maravilhoso, especial, diferente de tudo.

Por trás dessa baianidade, se esconde a opressão de nos caracterizarmos como pessoas que falam alto, cospem no chão, mijam na rua, são felizes em sua miséria, não estudam, não crescem. Há uma opressão em relação ao negro soteropolitano, pois legitimar a imagem do negro falastrão, esculhambado, folgado, malandro, ignorante e cheio de ginga é a pior forma de se lutar contra o preconceito e a segregação. Devíamos, sim, lutar para termos mais “miltons santos”, e não legitimar o que nos empobrece, indignifica e nos folcloriza.

Azelites baianas são as mais estúpidas que eu conheço. Poderíamos pensar que esse baiano raso, de cultura pobre, estaria nas camadas baixas, mas basta ver as atrações da “chopada de medicina” pra percebermos que nazelites o problema é bem pior. Onde se poderia ter um acesso diferenciado à educação privilegiada, livros, concertos, exposições, a coisa fica mais feia ainda, pois, ao menos, as pessoas menos favorecidas, financeiramente, de Salvador, trazem em si a pobreza cultural própria, autêntica e legítima.

Sinto muito, mas é pobre, sim. Uma população precisa ter acesso a todos os meios culturais para enriquecer sua cultura. Dizer que sambar, comer acarajé, ir pro candomblé e jogar capoeira é ter uma riqueza cultural é balela. É pouco. Como é pouco alguém que passa o dia ouvindo Mozart e nunca viu o Ilê Ayê subir o Curuzu.

É natural que, num povo onde se exalta a mediocridade de se bastar com sua cultura endógena, a cultura seja rasa e as possibilidades exíguas. Com isso, não tem teatro, música, dança nem literatura que se sustente. E, o pior, começa-se a pensar que o “especial” povo de Salvador tem suas particularidades, num egocentrismo pateta que serve de desculpa à falta de educação e cultura de nossa população.

Enquanto os governos, as instâncias privadas e públicas responsáveis por diretrizes culturais, enquanto os pseudo-intelectuais que se valem de modismos pra serem publicados e incensados, enquanto esse pessoal todo continuar legitimando nossa pobreza cultural, não haverá como melhorar nossa miséria. Não poderemos pensar em uma economia da cultura, em um mercado de trabalho digno pro artista, onde ele não precise de emprego paralelo, nem tampouco depender 100% do estado, pra poder sobreviver e fazer sua arte.

Salvador tem um potencial imenso, pelos pensadores e artistas que tem, pelos recursos, pela inventividade, pra se tornar uma cidade do século XX. Desde a década de 50 que tentamos. Mas a persistência no amadorismo, no folclorismo e no medo de crescer que acomete as províncias, em geral, faz com que o século XXI seja um futuro inalcançável, por enquanto. Tornemo-nos modernos, por enquanto. Já é um começo.

Vamos parar de achar que Salvador é linda, que seu povo é lindo, que sua cultura é linda. Um bom começo é ensinar as pessoas a ver a poesia das coisas. Estamos petrificados frente à poesia do mundo.

E pra que se aguce a possibilidade de ler a poesia das coisas é preciso educação e cultura. Outra cultura. A cultura que não querem dar ao povo; seja porque acham lindo o povo ser do jeito que é, seja porque é mais difícil fazer uma revolução cultural sólida, ou seja, principalmente, porque um povo culto vai perceber melhor a merda em que está vivendo e os merdas que estão no comando.

37 comentários:

Chico Oliveira disse...

Você aGil bem, Gil!

Parabéns, GVT! Mais uma vez você tem uma percepção real do momento em que vivemos e traduz em palavras, a saber, precisas palavras.

Abraço,

Chico Oliveira.

Pérsio Menezes disse...

Paulo Francis declarou certa feita que nem todos os tambores da África tem valor de uma nota de uma sinfonia de Bethoven. Essa é uma declaração extremada, mas que tem um valor intrínseco, contanto que seja observado o contexto. Como hipérbole, não precisa ser verdadeira, uma vez que seu significado é dado não só pelo que ela enuncia, mas também pelo conteúdo simbólico que gira em torno do o enunciador (o que também faz parte do contexto). No que diz respeito ao texto "A Pobreza Cultura de Salvador", de Gil Vicente, especialmente na sentença “Como é pouco alguém que passa o dia ouvindo Mozart e nunca viu o Ilê Ayê subir o Curuzu”, quis evitar soar como radical, contudo o fez de uma forma que quebrou a própria tese que defende. Não vejo nenhum bloco afro validando os valores que o texto ataca, porquanto a ressalva é desnecessária. Também não penso que seja obrigatório a quem quer que seja o interesse por essa ou aquela proposta estética (poética). Superado esse ponto, cai-se—necessariamente -- numa discussão sobre a natureza do gosto (estética). Por que as atrações da “chopada de medicina” (a quem interessar possa: Psirico, Cavaleiros do Forró, Pixote, Rodriguinho, Black Style e Forrozão) seriam representantes de um “gosto de pobre”??? Eis a verdadeira discussão. Aprendi na academia que o valor estético é dado pelo sutil, pelo que está nas entrelinhas, pelo que é apenas sugerido. Contudo não tenho conhecimento suficiente de tais ”atrações” (nem interesse, obrigado) para me arvorar a desenrolar esse novelo. Reconheço que a mim também parecem nomes pouco condizentes para o que deveria ser o gosto dos estudantes do curso mais concorrido, consequentemente os que estudaram nos colégios mais caros e são descendentes das famílias mais estruturadas. Mas, por outro lado, não se pode acusar a escolha dessas atrações de “homogeneizante”, visto a diversidade de estilos representados. Então fica a questão pra ser debatida. Na minha opinião a simples ocorrência de um evento de confraternização dos estudantes de medicina que leve o título de “chopada” já é emblemático da quantidade de sutileza que esse público está disposto /ou acostumado a consumir. Essa visão abre uma colocação outro ponto do texto em questão “E pra que se aguce a possibilidade de ler a poesia das coisas (a forma que o autor usa para falar da questão da sutileza) é preciso educação e cultura. Outra cultura. A cultura que não querem dar ao povo”. Mas que cultura seria essa? Como essa cultura é dada? Pra quem ela é dada? Quem deu à população negra oprimida americana o blues? Quem deu ao negro baiano o gênero musical que anima as festas universitárias e atende pelo nome de pagode? Quem deu ao carioca ao carioca a bossa nova (que é a mais legítima representante do crossing-over cultural bem sucedido, ao fundir as estéticas ‘poéticas’ do samba e do jazz)?

Gil Vicente Tavares disse...

Pérsio, só pra responder, rapidinho, algumas coisas. Você leu errado. Não falo em "gosto de pobre", expressão preconceituosa, falo em "gosto pobre". Justamente porque quando se fala em pobreza cultural, faz-se a relação imediata com os pobres, e azelites baianas são ainda piores em sua ignorância e pouca cultura.
Quanto a citar o Ilê, não me contradigo nem tento amenizar nada. Todos os grandes compositores colheram da cultura popular e do folclore do seu país inspirações para a música deles. Stravinski e Bela Bartok revolucionaram a dita música clássica buscando inspiração direta na música popular e folclórica do seu país. Fechar-se na academia achando que copiar Mozart, sem olhar seu entorno cultural, é o máximo também é um equívoco imenso.
Quanto à cultura que você se pergunta, que pode ser dada ao povo, é uma questão de política pública. Na Alemanha, o teatro tem a força que tem devido a uma sistemática política de estado para valorizar a cultura teatral. O talento musical e corporal do baiano poderia ser potencializado num diálogo com outras técnicas - sim, porque nossa cultura popular requer uma técnica e um talento específico que nem todo gringo consegue reproduzir, também, tão facilmente - aumentando e enriquecendo nossa cultura local. Basta ver a banda Rumpilezz, que conquistou o Brasil e, tomara, conquiste o mundo, fazendo o diálogo da música baiana, os ritmos daqui, com o jazz. E virou uma música extremamente sofisticada.
Quanto ao blues, é a misturada da doutrinação evengélica com a cultura africana, só existiu por conta da "catequização" feita aos negros, muito mais violenta que aqui.
O pagode vem da msitura de ritmos africanos com a chula, que vem do norte de Portugal, dentre outras referências mis.
E a Bossa Nova, como você mesmo identificou, foi essa necessidade de diálogo com o mundo, que ampliou harmonias, melodias e idéias sobre nossa própria música. São só algumas origens, não sou profundo conhecedor, mas gostei de você ter citado três estilos que existiram da mistura, da conexão com outras culturas, com outras raízes.

um abraço,

GVT.

Unknown disse...

Parabéns Gil pela lucidez e pelo carinho com que você escreve sobre a sua terra, que de alguma forma também é nossa, porque vivemos e criamos raízes aqui e porque sempre estamos trabalhando para oferecer nosso grão de areia na arte e a cultura.

Gil Vicente Tavares disse...

Caro Bruno,

Fico extremamente satisfeito que você tenha percebido o carinho, pois vivemos numa terra onde criticar é não gostar, as pessoas muitas vezes não percebem que se eu escrevo é porque quero que as coisas melhorem.

grande abraço,

GVT.

Regina Marinho disse...

Gil, só não concordo que isso foi reforçado pela era Lula e se aqui na Bahia o foi, só reforça a sua tese sobre este pensamento rasteiro do baiano, pois em nenhum outro estado do Brasil, o fato de Presidente ser Lula, atrasou o desenvolvimento Cultural, veja os festivais de Cinema em Pernambuco, Ceará, Brasilia, a ampliação das universidades federais, inclusive aqui na Bahia, que passamos de 1 para 3. Lula não tem nada com isso.
Veja quando começou essa onda do onda do AXÉ, do Arrocha, do Pagode, essa cultura chicleteira, a era ACM, o carnaval, o teatro do besteirol.. Isso não tem nada com a era Lula, veja o teatro aqui.. a mesmice do besteirol, vivendo de releituras, achando que os cafagestes, siricotico, oficina condensada, 1,99, é teatro..

Nadir Nóbrega disse...

Gil
Como negra e artista soteropolitana, concordo contigo em partes. Azelites azeitadas, desinformadas, homogeneizadas e opressoras foram construídas na colonização, assim sendo não é o governo Lula que as reforçam. Onde estavam ACM e os seus seguidores: religiosos do candomblé, blocos afros e afoxés, secretários, poetas entre outros? Muito pelo contrário é o governo Lula que abre espaço para que eventos surjam e se questionem:o que quero e como quero estas releituras.

Gil Vicente Tavares disse...

Caras Regina e Nadir,

Gilberto Gil, segundo um ex-ministro do Minc, inventou o Ministério da Cultura. Lula foi inteligente em não se meter diretamente na arrumação de um ministério que funcionava às escondidas, com uma lei neoliberal, editais escassos, uma política de balcão, etc.
Portanto, não é que a pobreza seja em decorrência de governo Lula.
A questão é que houve uma profusão de políticas culturais ligadas às minorias que discordo. Como discordo de Nadir. Ela é baiana, brasileira e faz parte da história da dança em Salvador. Se a cor da pele fez ela passar problemas, temos que lutar pra que eles fiquem no passado, e não separá-la como alguém diferente que merece atenções especiais. Nadir, como os milhões de negros, e indígenas, e nordestinos, e pobres, todos precisam ser incluídos, pois são todos iguais. É justamente essa política de exaltar as minorias, como se elas fossem portadoras de necessidades especiais, que me irrita.
Como disse numa resposta a este texto, só que através do facebook, temos que lutar pra ter mais "miltons santos", e não reforçar o negro que pula e toca tambor, que dança ijexá e come acarajé. Isso, se está genuino nele, faz parte de sua essência, e é através da educação e da cultura que outras possibilidades podem se abrir a ele. Vou parar de escrever sobre isso, pois quero que essa discussão entre num artigo que pretendo fazer e vou gastar idéias...
Regina, as peças que você citou são teatro, sim. Os Cafajestes, inclusive, foi legitimado pelo Prêmio Sharp, um prêmio nacional (apesar de prêmios não serem muito confiáveis).
Você pode gostar, ou não. Mas acho que o problema é justamente ter só um lado. O público de classe média e classe média alta só vai a esses espetáculos porque tem um cultura pobre, sem amplidão de conhecimentos, saberes e sabores.
O pagode, assim com o "axé", tem seu valor como música de carnaval, sem compromisso. O problema é só se consumir isso. E temos que levar em conta o eterno preconceito com a nova música baiana de carnaval, de pessoas que dizem que a letra é boba, a melodia fácil, mas são pessoas que saem atrás de um "mamãe quero mamar" dizendo; isso sim é música de carnaval. Mais pobre que isso, impossível.
Continuemos.

Gil Vicente Tavares disse...

Queria aproveitar pra agradecer os emails que tenho recebido; Dimitri, Geraldo, Vicente, Divaldo... Bom ter um retorno sobre coisas tão prementes pra mim.

drmukti disse...

Caro Gil,

o texto é certeiro, muito bem escrito, e deve ser lido com a complementacao de todos os comentários seus. Aguardo um dia em que o geverno tenha vontade de garantir jardim de infancia de qualidade para todas as criancas. A partir daí algo mudará; até lá outras políticas como as das cotas continuarao a vir. Grande abraco, parabéns.

Anônimo disse...

Gil, não conheço Salvador (gostaria de conhecê-la, pois pesquiso, atualmente, o culto aos orixás), mas conheço a Salvador do Axé, do Pagode, da Capoeira e do Carnaval televisivo. Isto, por causa da própria TV. Gostei muito do que você escreveu, mas discordo em alguns pontos, principalmente quando menciona os termos culturas de azelites, culturas pobres, folclore, etc. Prefiro pensar a cultura como culturas, assim, no plural mesmo. A divisão em camadas das culturas devem deixar de existir, vide Canclini, para que as classificações eurocêntricas, egocêntricas e bairristas também deixem de povoar os nossos pensamentos.

Grande abraço,


Luciano Oliveira

Gil Vicente Tavares disse...

Caro Luciano, o artigo aponta pra uma uniformização da cultura em Salvador, que compreende dos mais pobres aos mais ricos. Não diferencio culturas em camadas. Acho que assim como todas as camadas sofrem de uma pobreza cultural, todas mereciam uma maior riqueza de possibilidades, acessos e conhecimentos.
O que você conhece de Salvador é a nota única da cidade, empobrecendo-nos de outras artes e manhas.

outro abraço

Uendel de Oliveira disse...

Gil Vicente,
Será que o negro ou o pobre precisa ser um "milton santos", caso contrário ele será sempre entendido como um marginal ou como pobre intelectualmente?
Seu texto é repleto de preconceitos culturais do início ao fim: nao ter acesso "à educação privilegiada, livros, concertos, exposições" significa "pobreza cultural própria, autêntica e legítima"? O que você chama de riqueza cultural? Você toma como referência de qualidade determinados comportamentos e práticas artísticas/intelectuais, e chama de pobres e fracas aquelas que são diversas do padrão que você considera como o ideal. Assim, evidencia-se no seu texto estreiteza de entendimento e elitismo intelectual. Acredito que, diante da construção social atual, é fundamental que se valorize ampla formação intelectual, profissional e artística, e que se amplie o acesso. Mas isso não significa eleger "culturas fortes" e "culturas fracas", privilegiando as primeiras em detrimento das segundas - até porque tal dicotomia, presente no seu texto, deve ser combatida. Os grupos musicais que atraem centenas de pessoas às "chopadas", independentemente de gostos pessoais, são manifestações culturais tão legítimas quanto o Ilê Aye, ou Mozart, ou Teatro do Absurdo, ou acarajé, por exemplo. Que se estimule a capacidade de reflexão crítica, mas que se combata o eletismo intelectual e o preconceito cultural.

Gil Vicente Tavares disse...

Caro Uendel, vou explicar de novo.
Sou formado na cultura baiana. Graças a meus pais, sou nascido e criado em candomblé, frequentei durante anos as procissões mais importantes da cidade, saí 11 anos no Filhos de Gandhi, componho músicas nos ritmos da minha terra, escrevi e dirigi coisas ligadas à cultura baiana, sou amigo pessoal de diretores do Ilê, do Cortejo Afro, minha formação é extremamente baiana; e adoro ela.
A questão é que pra mim é pobre que nos fechemos nisso, sem podermos nos abrir a outras possibilidades que possam nos enriquecer. Ao redor do mundo, países investem em intercâmbios, trocas, a própria Europa central, que já ditou a "cultura", sofre um desgaste e um cansaço que é renovado pelo contato com outros povos, outras culturas. Não é à toa que o Brasil causa tanto interesse.
O que eu defendo é apenas que não nos fechemos numa cultura única, pois isso é pobre. E é o que vem acontecendo em Salvador.
Se com meu histórico e esse pensamento de ampliar fronteiras e conhecimentos, ampliando nossa visão cultural, existe preconceito, peço deculpas aos que interpretaram assim.

Celso Jr. disse...

Caro Gil. Concordo. Gostaria de enxergar as coisas com a mesma lucidez. Segundo Sérgio Bianchi, em "Cronicamente inviável", o 'Projeto baiano' é o mais bem sucedido no Brasil. Manter as pessoas pobres, ignorantes e culturalmente marginalizadas, criando uma ilusão da alegria através da euforia catártica carnavalesca.

"Chiiii-clééé-têê"

Enquanto isso, as Salas de Arte lotadas c'azelites discutindo "Inception", "Chanel" e Mozart, (eu me incluo nisso), não conseguem mudar a máquina.

Mas a máscara que vc faz cair é importante: Salvador é culturalmente pobre. Fato. Triste fato.

Martha Ribeiro disse...

Seu texto é muito bem escrito. Parabéns! Mas, deve ser analisado ao todo e não em parte. Percebido assim, parcialmente, parece mesmo preconceituoso.
Sou baiana e considero difícil compartilhar com certas atitudes, como fazer xixi na rua, cuspir no chão, jogar lixo pela janela dos ônibus, deixar o aparelho de som ligado no volume máximo etc. Gostaria que a sociedade organizada junto ao poder público pudessem instituir formas de educar essas pessoas. Falar sobre o perigo que representa jogar lixo nas ruas, lembrar que aquele xixi tão inofensivo provoca um odor fétido, quase insuportável,mostrar que ser humano nenhum suporta tantos décibeis e, principalmente, falar para essas pessoas sobre um dos mais sublimes mandamentos bíblicos: "AMAR AO PRÓXIMO COMO A TI MESMO" Afinal, é ele, o próximo, que vai sofrer diretamente as consequências dessas atitudes "inofensivas". Assim, acredito, começaríamos a compartilhar com uma Salvador,pelo menos, melhor educada.

Gil Vicente Tavares disse...

Celso Jr,

Bom estabelecermos esse diálogo. Right to the point.

Martha,

Não se muda um povo sem investir em cultura e educação. De forma concreta, com planejamento, sem medo de desagradar. É possível, mas falta vontade, articulação, e união dos que podem reclamar, questionar e incomodar.
Esse espaço aqui tenta existir nem que seja pra ser uma mosca na sopa.

abraço a todos

FLavio Luiz disse...

Gil,Dreyfuss!!!Parabens pela lucidez de um texto irretocavel!Fico feliz de ver que nao estou soh,mesmo que de maneira diferente,jah que eh atraves de meus cartuns e HQs ,na defesa de uma postura mais aberta e menos caricata dessa NOSSA baianidade por parte dos soteropolitanos.Por ser criticado no meu queixume e pouco valorizado entre nossos conterraneos precisei me afastar fisicamente da cidade de SSA que lamentavelmente nao me deu condiçoes de crescer no meu trabalho mas deh uma olhada no Au,o capoeirista para ver uma Salvador mais limpa,de povo mais aberto ,curioso,avido por esse contato com o mundo e que eu luto para mostrar aqui fora que existe e eh possivel!!.Sucesso, meu amigo e parabens pelo texto!!.Ele eh fundamental para qualquer tentativa de mudança nessa postura lamentavel!Abs

Anônimo disse...

Nem acredito ter lido um artigo como esse, vindo de um jovem baiano!
Recuperei as esperanças!
Nem todos estão perdidos em Salvador.
E vai ficar melhor quando acabar a xenofobia.

Bruno disse...

Parabéns Gil. Concordo plenamente. A retroalimentação e a autofagia não podem ser o único caminho para a cultura baiana. Como Martha disse, vamos discutir o todo do texto e não as partes. Quem acha que a Bahia tem teatro, cinema, artes plásticas, museus, fotografia e arquitetura desenvolvidos levante a mão e "sai do chão, sai do chão"!

Calila das Mercês disse...

Como é medido se o lugar tem pouca cultura ou não? Você compara a estrutura de outros países em relação a uma única cidade? Salvador é homogênea de ponta a ponta?
Será que todo soteropolitano se enquadra no estereótipo dessa baianidade?
Eu compreendo que, talvez, parte da população não compreenda muitos dos conceitos inseridos no texto. Não sei se a cultura de um povo pode ser medida. Não consigo ver esta Salvador, apesar das diferenças sociais um local de pouca cultura. Que conceito de cultura você segue?

Washington Queiroz disse...

Olá Gil,

Não estanos sós. Parabéns pelo lúcido artigo.
Enquanto a Bahia não reconhecer que é um Estado que vai além da Baía, continuará empobrecendo.
Essa folclorização externada, também recentemente, por Emanuel Araújo e já por tantos outros, e que tenho chamado de "monocromia cultural" ou "monocultura do carnaval", vem colocando em risco a Bahia e toda a sua vasta e diversa cultura. Cito apenas dois exemplos: 1. Até março de 2009 só podia entrar na Academia de Letras da Bahia, escritores que residissem em Salvador. Precisou do empenho dos os atuais acadêmicos para mudar o seu regimento e assim poder empossar o primeiro escritor residente no interior - Antônio Brasileiro, empossado no mês passado. É mole?
2. Enquanto para as outros capitais do Nordeste, o sertão é uma realidade cultural. Para Salvador é como se não existisse. Imagine! Todo o acervo cultural criado desde os primórdios da criação do Estado pelos vaqueiros (que é índio, negro e branco) e demais sertanejos - que vai desde um falar até sua cultura material, nada é considerado, não se dá o devido pertencimento e reconhecimento. Apesar de constituir cerca de 80% do seu território, é como se não fizesse parte Bahia porque não é da Baía. Claro que isso só faz embobrecer e está, a passos largos, empobrecendo.

Washington Queiroz

Tito Bahiense disse...

Parabéns Rapaz...Que bom!
O fato é que vc está falando por vc mesmo sem precisar de chancela de ninguém para poder expor seus pensamentos. Não tem rabo preso!
Glauber no final dos anos 50 falava de uma grande revolução cultural, de uma nova linguagem que sairia da Bahia para o mundo. De certa forma com o Cinema novo e a Tropicália a coisa tomou forma porém, o golpe dos milicos de 64 chegou, e ainda hoje colhemos os frutos deste pomar malígno enfestado de arvores daninhas e suas ramificações, de famíglias detentoras de poderes políticos suficientes para impedir a educação expansiva e a cultura evolutiva de um estado ou de um País. Iniciativas como a Rumpilezz do maestro Letieires Leite dão continuidade a essa revolução preconizada por Glauber a fim de acordar ao que siginifica tradição e evolução. Faz uma contra mão, unindo o que é popular religoso-sincretico ao que se compreende como erudição que nada mais é que linguagem acadêmica. Seu texto Gil me aguça os sentidos e me faz pensar que a reformar constitucional tem que fazer valer, porque enquanto isso, os Leo Cretz,os Frank Aguiar e até os Tirirícas da vida existirem como pessoas de importancia política numa câmara de vereadores ou em parlamentos Federais do nosso País defendendo interesses particulares, de deseducação, de corporação o lôdo continuará. Abrs, mano!

Gil Vicente Tavares disse...

Fico extremamente feliz em ver artistas reconhecidos dando depoimentos, como Flávio Luiz, Tito Bahiense, enfim, esse espaço aqui tenta dialogar com todos para que pensemos nossa cultura, nossa arte, nossa sociedade. E me incomoda muito que as pessoas se calem, aquiesçam. Espero contar sempre com a ilustre participação de amigos, conhecidos e desconhecidos que dialogam com as idéias deste espaço.

abraço a todos!

Jorge Ramos Neto disse...

Parabens Gil.Extremamente lucido, e sobretudo corajoso.Cidade pobre de cultura, e em muitos casos,de espirito.E ainda tem gente que se dá ao trabalho de ficar rebatendo seus argumentos sem ao menos demonstrarem entendimento do foi escrito.Da proxima vez desenhe, talvez assim entendam.

Carlos Ujhama disse...

Olà GVT, tudo bem?
Não fomos apresentados ainda... muito prazer! Me chamo Carlos Ujhama e, pelo visto, sou uma das tantas pessoas que receberam o seu precioso email sobre “A Pobreza Cultural de Salvador”.
Será que conseguirei ser breve?
Tentei postar essa resposta no blog, mas por algum motivo não consegui...
Bem:
- Luter King falava uma coisa:
"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-carater, nem dos sem-ética. O que mais preocupa é o silencio dos BONS!"

Me considero um desses bons!! Que arrogância, hem!!

Percebi nas colocações postadas, como respostas ao blog, uma mesmice com relação a forma de pensamento aos pensamentos!! Do que adianta recebermos tantas informações se não sabemos o que fazer com elas? Porque manter-mos essa divisão de caráter, ética, estética e todas as outras que percebemos, estão presentes na sua, na minha e na de todos os que responderam ao texto?

Queria te conhecer, mais antes, quero que você me conheça: www.afrosoteropolitano.blogspot.com
Talvez tenhamos muito sobre o que falar, fazer e refazer!!

Grade abraço,

Carlos Ujhama
Professor, coreografo e diretor cênico!

Roberto disse...

Muito bom.

Comité Regional Baixo Sul Dep. Yulo Oiticica disse...

Olá Gil Vicente, permita-me que eu comente seu texto que está com uma qualidade indescritível. Está de parabéns... Você resumiu muito bem a situação de Salvador "BAhIA" que eu gostaria de dar uma versão mas abrangente pra o nosso estado.

Já sou sua fã!!!

“Eu vou pra Bahia. Lá que é terra da oportunidade, da Curtura... Eu vou pra Bahia meu Senhor. Lá é a capitá do Estado. Lá eu vou te curtura ...”

Vamos começar com a seguinte colocação. Hoje a "Bahia" é o celeiro cultural do estado. Para mim que sou do interior, tenho orgulho de ser da roça, sempre ouvi a mesma frase durante toda a minha existência. Porque lá na "Bahia" tudo é melhor. Lá você tem opção pra tudo inclusive no que tange a cultura universal.

Depois, ficando gente grande, vim a desvendar a "Bahia" e vi realmente. A contextualização cultural mambembe onde o estado se encontra – em todas as esferas - nos seus mas diversos aspectos culturais.

Suas citações foram da mas alta pertinência. Só que o contexto não se resume a "Bahia" e sim a todo estado da Bahia. Pois se podermos dar um 360º em todo estado, o nível de cultura da população é de uma pobreza generalizada em todas as classes sociais, de mamando a caducando.

Na minha cidade, Valença, existe um centro cultural – Centro de Cultura Olívia Barradas, Administrado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia - FUNCEB, onde “nós artistas" ou fazedores da dita arte, tentamos à grosso modo, tornar a cultura mas acessível a população, com o Projeto Ocupação Cultural, que é 0800, e que tem como base, a mostra e intercâmbio com todas as linguagens no nosso município e no território do Baixo Sul.

Desculpa pelo jabá, mas tive que citar...

Mas es que vem o questionamento.
Como é que se estimula uma população de quase 100 mil habitantes para a prática e participação cultural se ela não tem o mínimo de educação básica? Como contextualizar um adolescente que só ouvi arrocha e pagode a ouvir Noel Rosa, Pixinguinha, Batatinha, Caetano Veloso? (o básico da cultura popular brasileira)
Isso meu caro acontece na "Bahia" imagine na "roça" que o acesso as ferramentas culturais é quase nula.

Quem tem um pouco de conhecimento cultural universal quer transmitir, mas o difícil é lutar contra o Golias da ignorância.

Hayaldo Copque disse...
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Elisio Lopes Jr disse...

Oi Gil!

Não tem outro sentimento que nos mova ao grito que não seja o Amor... E no seu texto ele vem somado a uma dose generosa de dor. É um pensamento que só um artista pode ter. Mas não é um só assunto... são muitos tópicos: estética, política, história, raça, tanta coisa...
Mas o bom é perceber que a sua reflexão não é sua só. Ela está pairando em nossas cabeças... Acho que Caetano poderia me completar agora: "Sobre a cabeça os aviões, sob os meus pés os caminhões, aponta contra os chapadões meu nariz. Eu organizo o movimento, eu oriento o carnaval, eu inauguro o monumento no Planalto Central do país."
É isso. As idéias estão aí, os incômodos estão claros, e os movimentos tímidos e individuais. Não sei, de verdade, se existe espaço em nossa cyber-realidade-sem tempo-pra nada, para o movimento realmente coletivo. Será?
Acho que essa história tem que ser como uma onda... Quem estiver na praia, e for do bem, vai pegar!
Seu texto, pra mim, é um movimento. Eu faço diariamente o meu movimento... E às vezes eu sinto que vem mais gente comigo na onda. E é massa! É a hora que tudo ganha sentido. Mas são movimentos individuais, a pessoa tem que estar perto, a gente tem que estar perto um do outro pra sentir.
Resumindo: Parabéns!
Acho que é por aí. O negócio é não ficar parado.
E apesar de saber que a gente só joga pedra em árvore que dá fruto... Acho perda de tempo encontrar os culpados... Fazer o movimento hoje já é tão difícil. Vamos escrever, ler, cantar, interpretar, reclamar, declamar, encantar...
Vamos também cumprimentar os outros pelas vitórias, dar um toque no erro... Vamos nos mover!!!!!!
Abração meu velho!

Elisio Lopes Jr

Gil Vicente Tavares disse...

Elísio,

Escrevi sobre esse silêncio em outro artigo: http://teatronu.blogspot.com/2009/02/o-silencio-dos-culpados.html.
Uma vez Márcio Meirelles me disse que eu era muito "carreira solo". Ele errou. Ele não entendeu que ou procuro os bons, os melhores, pra aprender. E a maioria acachapante está corroborando o sistema, se locupletando dele, ou apenas aceitando passivamente.
Essa idéia de "movimento" é fundamental. Talvez eu possa estar contribuindo infimamente para que as coisas saiam da inércia, e isso é muito bom.

Carlos e Jorge,

Continuemos o diálogo por aqui, em outros espaços, vamos ampliar a discussão, pois alguma hora os donos do poder, da imprensa que nos imprensa, todos eles terão que botar nossos assuntos em pauta e remexer a messe.

abraços

Luiza disse...
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Luiza disse...
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Matheus disse...

Meu comentário não é sobre este post. Porém, como imaginei que comentar no "Teatro desandado" passaria despercebido, por ser uma postagem antiga, vou bagunçar um pouco a ordem aqui, rs.
Hoje fui a uma peça excelente, e como costumam ser as peças excelentes, o público foi muito pequeno.
O que acredito ser a causa é muito simples: falta divulgação.
As pessoas gostam de teatro, mesmo aquelas que nunca foram. O teatro é simpático. Acontece que o teatro precisa ir a elas. Por que, senão, as pessoas vão assistir a filmes só por causa do título, ou um trailer de 30 segundos qualquer num intervalo da sessão da tarde? Além das diversas peças teatrais de comédia, geralmente vazias - de conteúdo -, que tem suas sessões esgotadas, mesmo com ingressos de preços consideravelmente altos, mas que tem seus cartazes estampados em ônibus, outdoors e intervalos comerciais, também contribuem com a minha tese...
O que acontece é que as pessoas querem ir ao teatro, elas tem interesse, mas sequer sabem quais espetáculos estão em cartaz.

SB-SSA disse...

Adorei o texto!!! Bom saber que existem pensadores contundentes e atentos em "selvador".

Cid lincoln de aragão santana disse...

Texto perfeito.Parabens!!
Tambem me sinto feliz por não estar só no descontentamento com nosso cenario cultural
As vezes parece que não tem mais volta ,não tem mais geito.
Moro em Salvador e no pico dos desfiles de carros q parecem trios eletricos no q diz respeito a potencia do som.E advinhem o q eles tocam?pagode e arroxa é claro
Moro na Ribeira e assim como a grande maioria dos moradores nativos,ainda não me mudei por não poder
Os fins de semana aqui estão insuportaveis
Se conseguimos desviar de poças de urina ,palavrões e brigas,não ha como fujir do som insurdecedor.Uma tortura!!
Agora,depois desse fim de semana,ganhei um fio de esperança.Fui a um show da banda Scambo
Alem da qualidade musical ,outra coisa me chamou a atenção .Com apenas dois banheiros quimicos para centenas de pessoas ,o lugar estava impecavelmente limpo.
Parabens a produção aos musicos dessa banda impar e talentosa e ao publico.
Faço questão de deixar meu nome nesse espaço .
Cid Lincoln de Aragão Santana

Ass Pagodeiras disse...

Muito bom o texto, só não concordo com a "era Lula" mas foi muito bem explicado seu pensamento.