segunda-feira, janeiro 25, 2010

O poeta faz setenta na cidade que cê tenta, cê tenta, cê tenta...

Hoje, dia 25 de janeiro de 2010, o poeta, escritor, compositor e dramaturgo Ildásio Tavares faz 70 anos de idade. Ildásio chega aos 70 anos tendo conquistado um reconhecimento internacional como poeta, e tendo participado de momentos significativos da música popular brasileira; além de ter sido libretista da única ópera negra e baiana a ser encenada e reencenada, Lídia de Oxum, viajando o Brasil através da música de Lindenbergue Cardoso, da batuta de Júlio Medaglia, e de vários profissionais baianos.

Recém publicado em Portugal, com o livro As flores do caos, Ildásio chega aos 70 anos com uma qualidade de poeta poucas vezes vista. Qualidade reconhecida em vários países, em outras cidades, mas à qual Salvador faz vista grossa. Dominando a arte do soneto e reinventando sua linguagem num jogo de palavras, coloquialidade e forma, o poeta conseguiu chegar a uma perfeição estrutural no que é mais difícil, o verso livre.

(Ao contrário do que muitos pensam e fazem, o verso livre é o mais difícil; e foi o surgimento dele o responsável por muita gente achar que exprimir sentimentos num papel – e disso também não escapam sonetos e redondilhas – é fazer poesia.)

Ildásio foi parceiro dos baianos que ficaram. Do grupo que rumou pra São Paulo – que faz aniversário hoje também, assim como Tom Jobim – e que formou a Tropicália, ficou em Salvador Alcyvando Luz, Djalma Correa, dentre outros, talentosos músicos com quem o poeta faz música, ganhou festival, e daí partiu pra parceria com a dupla Antonio Carlos & Jocafi. Com o primeiro, compôs Catendê, gravada por Vinícius, Toquinho e Maria Creuza, com os dois fez a trilha da novela Primeiro Amor, fez Hey Shazam, e depois veio Vevé Calazans, Gerônimo, com quem fez Salve as folhas, gravada e regravada por Bethânia e tema do novo filme de Pola Ribeiro, só pra citar alguns; apesar do pouco reconhecimento de sua obra como compositor.

Coisa que viria numa noite, no Bar Canoa, antigo Meridien de Salvador. Após assistir a um concerto de Baden Powell, os dois relembraram Vinícius, amigos, e Baden sacou o violão e falou; “tenho uma melodia aqui inédita”. Naquela mesma noite saia Canto de Yansã, uma das últimas músicas de Baden, recém gravada no disco Afro Samba Jazz (eu pude presenciar essa cena em meio a cochilos, há uns 15 anos atrás).

É muita história. Tudo isso ignorado pela província em seus 70 anos. Ao menos o poeta Douglas de Almeida se mexeu e resolveu fazer um recital comemorativo dia 27 próximo no Espaço Cultural da Barroquinha.

Mas isso não é "mérito" só de Ildásio. Carlos Betão, ator que vem se destacando na cena baiana há anos, profissional competente que passou em todas as audições que fez, tendo feito 7 vezes o núcleo do TCA (porque só fez 7 audições), figura presente em alguns dos melhores elencos e espetáculos da cidade, fez 50 anos e ninguém soube.

Dias depois, Betão recebeu um telefonema da Rede Globo. De um teste antigo, saiu o convite pra fazer um episódio de Força Tarefa. Um bom presente num mês onde, esquecido, Betão passou seu aniversário em poucas companhias e telefonemas.

Salvador não se interessa por quem fica aqui. É preciso sair pra conseguir espaço na mídia e interesse da grande massa. A pergunta constante de artistas importantes da cidade é se não estamos todos perdendo tempo em investir em Salvador.

Citei apenas dois casos de pessoas próximas. Mas isso acontece sempre na província. Nem Tântalo, nem tampouco; mas um suplício.


GVT.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vênias do coruja pai