quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Impressões modernas, lançamento de livro, verdade tropical...

Eu vira um espetáculo do Oficina - Os pequenos burgueses de Górki - em 65, na época em que Bethânia estava com o Opinião em São Paulo. A montagem me encantara. O estilo do diretor José Celso Martinez Corrêa era ao mesmo tempo mais tradicional e mais sutil do que o de Boal. Lembro que, ao sair do teatro, pensei em como era problemático que eu gostasse talvez mais daquilo do que do meu querido Arena conta Zumbi. O Zumbi era um passo, uma conquista, não havia dúvida, mas em Os Pequenos burgueses do Oficina havia uma sensibilidade que me reportava aos espetáculos da Escola de Teatro da Bahia de Eros Martim Gonçalves...
Verdade tropical, de Caetano Veloso

Quinta-feira, a partir das 17 horas, a atriz e jornalista Jussilene Santana, minha (ex? futura?) parceira do blog Teatro NU, estará lançando o livro Impressões modernas, na Livraria LDM.
Citei o trecho acima por ser emblemático do período que o livro trata; a década de 50. Martim Gonçalves veio à Bahia, juntamente com uma equipe de primeira grandeza - em nível internacional - fundar as escolas de arte propostas pelo visonário e ousado reitor da UFBA, professor Edgar Santos.
Martim ficou responsável pela Escola de Teatro da universidade, e, nos poucos anos que ficou à frente da escola, sofreu críticas ferozes da província em relação ao seu projeto de profissionalização e refinamento estético do teatro.
Para se ter uma idéia, até passeata de estudantes houve para não se gastar dinheiro público com escolas de arte. Nem sei se Jussilene vai gostar que eu revele isso, mas seu doutorado - o livro foi o resultado do mestrado - trata do mesmo tema, e ela vem se esmerando em pesquisar este período sobre outra ótica. No mestrado, ela escolheu a relação da cobertura jornalística da época com Martim e com a produção da Escola. E este é um período chave para se compreender as forças internas, as questões, os conchavos, a decadência e as crises do teatro baiano.
A pressão da sociedade, de jogos políticos e da imprensa - simulacro dos dois primeiros - fez com que Martim saísse prematuramente, quase que expulso, da Bahia. E o projeto de profissionalização e atualização frente às vanguardas européias e americanas, bem como a troca da informações sobre as novidades e discussões no primeiro mundo, foram se encolhendo, depois dele.
A resistência da década de 70 e 80 é clara em alguns encenadores e grupos. A década de 90 é confusamente um período onde ganha-se mais dinheiro com teatro em Salvador, mas a estética e a ética ficam frágeis e um projeto de modernização do nosso teatro acaba por esbarrar em bairrismos, carreirismos, folclorismos oportunistas e a sempre malresolvida relação entre arte, poder público, iniciativa privada e sociedade.
Num momento de violento retrocesso e amadorização da produção soteropolitana, um livro como esse merece ser apreciado por interessados e artistas que procurem se desgrudar dos ranços da província e pretendam - a partir de uma visão mais cosmopolita, desprendida e modernizadora - resistir ao quadro que se afigura nas artes da Bahia.


GVT.

Um comentário:

Jussilene Santana disse...

Gil, postarei aqui com mais calma.
O debate sobre o livro pega fogo com os comentários do jornalista Jean Wyllys, do professor e crítico Andre Setaro e do diretor Ewald Hackler. Vc, não à toa, pegou o espírito da coisa "Martim Gonçalves contra uma província" neste post. Me aguarde!!
E aproveito e encaminho a todos para o http://arenateatral.blogspot.com

até mais, Jussilene
O lançcamento é amanha, quinta, 05 de fevereiro, na LDM, 17h