O poeta Antônio Lins assumiu a presidência da Fundação Gregório de Mattos. E ele pega um imenso abacaxi nas mãos. A Prefeitura tem ficado à sombra do Estado em várias ações, notadamente na área de cultura. É público e notório que ACM, raposa velha, injetou muita grana na cultura da Bahia, e nessa esteira veio uma profissionalização do teatro, a reinauguração do TCA, a reconstrução do Vila Velha – e a consequente ajuda na manutenção – bem como o Theatro XVIII, projetos de grande porte como o Ateliê dos Coreógrafos e o Núcleo do TCA. Enquanto isso, a prefeitura mantinha uma FGM como fachada de eventos e coisas triviais.Quando Wagner venceu as eleições, houve um encontro entre Prefeitura e Estado no qual o prefeito João Henrique prometeu criar uma Secretaria de Cultura, desvinculando-a de Educação. O projeto não vingou, e a FGM continuou com um orçamento de 0,2%. Dados do IBGE, em 2005, apontam esse percentual ridículo, que deixa Salvador atrás de cidades como Macapá (0,48%) e Rio Branco (0,57%). Recife investia mais de dez vezes seu orçamento (2,3%) em 2005. A prefeitura, além de destinar um orçamento pífio à cultura, ainda juntou à Secretaria de Educação e Cultura as pastas de Lazer e Esportes, transformando-a num Frankenstein.
Antonio Lins vem com propostas amparadas por recursos federais. Com apoio do ministro Geddel Vieira Lima, ele quer construir um Teatro Municipal e revitalizar a Ladeira da Montanha, criando um corredor cultural. Vem também com a gasta bandeira da democratização das artes.
O problema é que – no teatro, por exemplo – um sucateamento do profissionalismo, uma falta de políticas claras para a área, um desmantelamento de ações passadas (por serem carlistas?), tudo isso vem contribuindo, no âmbito estadual, para um cenário preocupante no teatro soteropolitano. E a prefeitura nunca fez nada contra isso.
Na maioria das capitais, há um grande fomento das atividades culturais, principalmente através de subvenções. Em muitas cidades, a prefeitura chega a ser mais atuante que o Estado, visto que o diálogo é mais direto. Um exemplo é a Lei de Fomento ao Teatro da cidade de São Paulo, criada a partir de idéias dos próprios artistas.
A FGM não existe para as artes da cidade. Que o novo presidente fique atento ao fato de que democratizar uma produção em decadência não gera uma real troca de valores na sociedade. É preciso fortalecer a formação e a produção. É preciso que a Prefeitura de Salvador entenda e dialogue com as artes da cidade, ignoradas e marginalizadas pela ação do município.
Não será com grandes reformas e obras que esses problemas serão resolvidos.
GVT.


