domingo, julho 15, 2007

A COISA II (sobre a necessidade de VER)

Por Jussilene Santana
Oi, gente!

Devido à quantidade de e-mails e comentários sobre o texto A COISA, resolvi responder o post com outro post.

Monica, Joana e Bá,
Estamos na sociedade de massas há um século. No Brasil, sob a orientação/formação da Indústria Cultural definitivamente e quase que exclusivamente há uns 30 anos. De lá para cá, que impacto socio-histórico pode ter QUALQUER produção, teatral ou não, direcionada a 80, 100, 500 (ula-lá) pessoas? Produção esta que, para ser realmente NECESSÁRIA, deveria ser feita com apuro e reflexão?

Há um trabalho de formiga, não-massivo, que acho imprescindível (daí o blog, as peças para platéias de 80 e 100 lugares, as aulas, a pesquisa...). Mas, HÁ mais...

A palavra teatro vem do grego théam (ver). Seria traduzindo ao pé da letra: “lugar de onde se vê”. Ou seja, é a PLATÉIA. E theatron são “os lugares destinados para os espectadores” (tirei isso, claro, de dicionários de Teatro e de História). A sociedade não pode mais se reunir em lugares com 20 mil pessoas para assistir algo com atenção. Lembro que o Teatro de Epidauro, na Grécia, tinha essa capacidade. Acima desta quantidade, vamos combinar, só dá para pular e gritar junto. Enfim, o algo mais reflexivo tem que vir TAMBÉM midiaticamente...

Mas estou falando isso tudo quando queria falar que a principal crise do teatro (daquele teatro JÁ ERA) é a “crise da representação”. Só acreditamos nas coisas mesmas, não acreditamos na sua substituição, “nos signos de”, apesar de estarmos cercados deles. E essa é a matriz do teatro ocidental....
Entre outras implicações, é muito raro que um ator seja chamado para fazer/representar O OUTRO. Geralmente ele é convocado para fazer ELE MESMO. E foi a linguagem audiovisual que nos possibilitou isso. O teatro largou mão de sua especificidade e foi na onda.

É mais difícil, entendam em termos apenas de physique de role, mentir para a câmera. Eu quero um NEGRO, UM VELHO, UMA LOIRA, etc... Eu quero aquela persona (que ironia, já que é a palavra mesma para MÁSCARA). Sim, vocês vão me perguntar sobre aqueles filmes cheios de efeitos especiais para mudar o rosto, mas aí, nem conta como exemplo para o que eu chamo em questão, né?
O teatro contemporâneo - não poderia ser outra coisa - está no século XXI. E com uma platéia que herdou esta série de transformações.

Ivan, Cristiane e Antonio
Eu também me emociono com o teatro JÁ ERA. Quando bem feito, ele é uma ARMA (não a única) que nos ajuda a conhecer nossos próprios atos. Esta promoção está cada vez mais difícil devido às inúmeras resistências de cá e de lá. E ao excesso de imagens que nossa sociedade produz sobre si mesma. Mas como enxergar sem seleção? Para ver é preciso ter foco... Esta é a reflexão, o espelho da alma, que queriam os gregos.

Manu,
Você fica me devendo a entrevista com Haddad. Procurei na NET, mas não consegui...

Setaro,
Inspirando-me em você e em outros mestres, continuo de cá.

7 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Jussi.

Saudades de ti, mesmo que o nosso contato não seja tão intenso, o nosso mundo e as pessoas que fazem parte dele são quase as mesmas, não é? Então, tenho ficado um pouco ocupado com dois projetos audiovisuais que estão já me tirando o pinguinho de paciência que tenho rsrs. Mas acho que dá pra melhorar, basta eu ser menos ansioso, afobado e dar tempo às coisas (nunca acreditei muito nisso, de dar tempo, mas vou experimentar).

Tenho lido, sim, o blog. A primeira coisa é parabenizá-la pelo papel de Maria Quitéria na rádio novela que está sendo montada com a parceria da FJA. A segunda é sobre o artigo que você tece comentário sobre a dramaturgia na Bahia... Acredite, hoje mesmo estava pensando sobre isso. Eu gosto de escrever e provavelmente vá fazer uma pós voltada para algo como roteiro, mas tem um porém: quando escrevo para o audiovisual, consigo encontrar pessoas interessadas em ler meu trabalho e, principalmente, montá-lo, mas quando se trata de teatro... Não sei o que de fato acontece, mas definitivamente não tenho um retorno tão bom, tão caloroso quanto tenho para os meus roteiros. Adoraria escrever para teatro mas não sei com quem posso compartilhar esse texto, quem pode ir lendo e me dando retornos... Seria tão bom se houvesse um grupo de discussões em que pudéssemos mostrar as nossas obras e ter retornos imediatos de um grupo de pessoas interessantes e sensíveis.

Assim como acontece em um evento com cineastas no Sul, onde toda semana se encontram para discutir sobre os seus roteiros que estão em andamento. É tão mais gostoso você fazer algo e ir vendo a reação do outro, se está agradando, se não está, se deixa ele com raiva, se o faz ficar feliz, se ele se identifica com aquelas passagens... Eu sei que não devemos fazer arte somente pensando na reação do outro, mas eu sinto muito prazer e me incentiva muito ver isso acontecendo. Sabe, mexer com o outro apenas com letras no papel é algo que me deixa maravilhado e não abro mão de presenciar isso acontecendo. É excitante com tão pouco você mexer em algo tão complexo e profundo (as vezes) que é o ser-humano.

Fico feliz que tenha lembrado de mim nesse mundo orkutiano. Sou seu fã de graça, você sabe e tenho muito orgulho de saber que na Bahia existe alguém tão talentosa. Existem outras mas você é especial. O que você consegue passar nos palcos, e da forma que consegue... Sei lá, me tira do sério. Mas deixa eu parar por aqui.

Jussilene Santana disse...

Duda, mais uma vez obrigada pela gentileza. Às vezes, em teatro, a gente se sente falando para as ondas, porque apesar das palmas serem imediatas, não há repercussão necessária sobre o que se produz, não há crítica séria e sistemática, não há retorno. E vc que faz televisão sabe da importância do retorno para o audio, para a voz. Se no meio de uma transmissão vc não tem seu retorno direito, o público tá te ouvindo numa boa, mas sua fala sai gritada, histérica.

Um dos sonhos do Teatro NU, desde o mestrado com Gil, é criar este ambiente de dramaturgia e crítica aqui em Salvador. Só posso te dizer que queremos muito torná-lo possível e estamos encaminhando projetos parecidos a estes que vc fala para os novos editais do governo.

Uma correção necessária. O texto sobre dramaturgia que vc se refere é de GIL VICENTE TAVARES, meu parceiro de Teatro NU.

grande beijo!

Anônimo disse...

Oi, Jussi! A entrevista já é sua...devidamente guardada será entregue em mãos :)...ahhhh..e to adorando ver que está mais solta na escrita do blog...beijos, diva!

Anônimo disse...

Oi,

A "Coisa" cutucou foi gente... tamb�m deixei um coment�rio por l�...

Jussilene Santana disse...

Rita! Vou responder o que tá chegando, inclusive seu post em A Coisa, que, alias, mexeu comigo...hehe. To no Cyber estes dias e aí já viu...
beijos

Anônimo disse...

Oi, soube do site pelo meu grupo de pesquisa em litearatura e vim conferir.
A questão não seria de formação? Da crítica, do público e dos que fazem teatro? As pessoas não sabem comparar mais nada? Também não há mais formação em humanidades... Será que somos formados apenas pela estética televisual?
Estou acompanhando o debate.
Grande abraço

Jussilene Santana disse...

Eunice, vc quer deixar seu contato aqui para nosso mailing?
grande abraço,
jussilene