quarta-feira, outubro 14, 2009

Oropa, Chile e Ceará

A primeira semana de outubro foi uma semana muito especial pra mim e pro Teatro NU. Em exatos sete dias, estivemos em dois projetos que podem ter dado uma outra dimensão ao grupo.

Nos dias 5, 6 e 7 de outubro, realizamos o Diálogos sobre dramaturgia contemporânea, evento que trouxe a Salvador o chileno Ramón Griffero e o espanhol Darío Facal, dois dramaturgos que tiveram seus textos lidos pelo Teatro NU, com a participação de atores convidados. No terceiro dia, lemos a peça Agreste, de um dramaturgo brasileiro que, no dia de seu debate, ligou alegando problemas de saúde na família e não veio ao evento, propiciando uma discussão com Claudio Simões, Marcelo Praddo e com a minha mediação, sobre dramaturgia contemporânea (e) baiana.

O evento, de caráter internacional, foi um pontapé inicial pra todos os anos consigamos – de uma forma ou de outra – realizar esses diálogos e botar a dramaturgia em questão, em xeque e em discussão.

Causou-me certo espanto a quantidade de alunos da Escola de Teatro presentes ao evento. Numa Escola onde circulam cerca de quatrocentos alunos por semestre, ver pouco mais de dez presentes me causou espanto, ainda mais levando em consideração que 90% dos que estavam ali tinham algum contato comigo, tendo sido meus alunos ou colegas. Da classe teatral de Salvador eu não esperava muito como na verdade nunca espero muito, seja em presença ou em reivindicações, debates e discussões. Tampouco esperava que fossem muitos professores, só me assustou que não fosse nenhum – com exceção de um que apareceu por alguns minutos e não voltou mais.

Já quero me articular pra pensar a ampliação do projeto com algumas mesas, um ou dois ateliês de dramaturgia, e quem sabe fechar ou iniciar com alguma apresentação do Teatro NU, pros dramaturgos conhecerem o grupo no palco, e o público que pode não ter visto muito ou tudo que fizemos ver também.

Após um breve descanso de um dia, viajamos dia 9 pra Fortaleza, no âmbito do Festival do Teatro Brasileiro – cena baiana. Este projeto, encabeçado por Sérgio Bacelar e co-produzido por Selma Santos, tem levado – num apanhado diversificado – parte do que vem sendo produzido em alguns estados para outros do Nordeste.

Assim, o FTB – cena baiana em Recife levou diversos espetáculos baianos para Pernambuco, o FTB – cena pernambucana trouxe tantos outros aqui pra Salvador, e assim, com várias edições, um panorama eclético foi apresentado do que vem sendo produzido por aí, Nordeste afora. Nessa etapa agora, Sérgio e Selma tiveram a hercúlea tarefa de produzir, concomitantemente, a cena baiana em São Luís e Fortaleza.

O Teatro NU viajou com Os Javalis, espetáculo que passou quase em branco por Salvador, e foi surpreendente a receptividade do público cearense. Ficou mais clara ainda a idéia que tenho de que o público soteropolitano é viciado. Há, em Salvador, nichos que têm seus preconceitos e posturas inabaláveis e vê-se nitidamente que o público espontâneo, aquele que sai de casa sem conhecer ninguém da peça, com o simples intuito de ver uma peça porque deu vontade, sentando num teatro pra assistir uma história, é algo escasso em Salvador.

O público cearense riu, franziu a testa, acompanhou a peça com a pureza de alguém que está ali pra ser espectador, e não cumprir uma tarefa social ou uma obrigação de classe. A reação da platéia confirmava isso, e a vontade de voltar a Fortaleza ficou bem grande.

Foi a primeira viagem do Teatro NU. E com um saldo positivo, após termos realizado um evento que, pros pouquíssimos que estivem presentes no Teatro Martim Gonçalves, deve ter servido para ampliar idéias, conhecer novas vozes, discutir conceitos. Ao menos pra mim o evento serviu pra isso.

Estamos ampliando fronteiras. Tom Jobim dizia que a saída pro artista brasileiro era o aeroporto. Espero que o aeroporto seja pra que possamos trazer gente, nos levar e nos trazer de volta a Salvador.

Espero que a nossa saída não seja uma passagem só de ida.

E que tenhamos um retorno.


GVT.

Um comentário:

Professora Diana disse...

Os "Diálogos sobre dramaturgia contemporânea" para mim foi um evento super importante, um abrir a cabeça, ver que existem maneiras muito diferentes de se contar uma história e ainda sim ser drama. A cada dia eu ficava me perguntando se aquilo que eu via e ouvia era teatro mesmo, longas narrativas, texto fragmentado, momentos confessionais, informações aparentemente soltas. Cadê o embate de forças, vontades, quem é o protagonista e o antagonista, cadê os diálogos, o que eles querem? Não há mais regras? Autoria da mente, o artista livre para criar o seu estilo! E se um texto para ser político tem que tratar de assuntos de interesse comum, ou não bastaria uma reflexão individual sobre o cotidiano caótico? Foram tantas questões que surgiram em minha mente, dúvidas, achar maravilhoso e estranho (e por isso rejeitar) este "novo", que me deu vontade de me unir aos meus colegas e formar um grupo de estudo do drama. E espero que a vontade se concretize, porque eu e um colega continuamos dialogando sobre a dramaturgia contemporânea, o evento reverbera nos blogs e corredores da escola.
Eu fiquei com vontade de ler os textos em casa. Fiquei pensando se não poderiam ser vendidos os textos em livretos para que os participantes do evento pudessem depois analisá-los melhor. Talvez isso seja pedir muito, pois o Teatro Nu não é editora, mas fica a sugestão.
Estou muito feliz e agradecida à iniciativa do Teatro Nu, por estes três dias de "expansão do olhar". Espero que não demore muito para os novos Diálogos sobre dramaturgia contemporânea acontecerem e que bom que está no projeto ateliês de dramaturgia.