sexta-feira, março 06, 2009

Teatro da vida; pessoas e lembranças III

Discutindo sobre nosso novo projeto, Teatronucinema, há duas semanas, Eduardo Tudella me disse que tinha uma encomenda pra mim em seu carro. Era uma manga do sítio de Claudete Eloy, em Rio de Contas.

Claudete foi minha professora de maquiagem e figurino. Responsável por trabalhos memoráveis na Escola de Teatro da UFBA, Claudete resolveu pedir licença sem vencimento e foi morar num sítio sem luz elétrica. Mora até hoje, lá, e esse pequeno gesto de me enviar uma manga me emocionou, por tudo que ele representou naquele momento, pra mim. Dias depois, acabo encontrando com a mesma Claudete na Escola de Teatro, ela tinha vindo em Salvador, e pude agradecer ao vivo, com um abraço carinhoso, aquela manga, aquele encontro. Agradecer àquela mulher.

Sobretudo, porque antes de sua licença, tive a honra de contar com seu talento em meu espetáculo de formatura, Quartett. Figurinos e maquiagem primorosos, foi de Claudete a idéia de botar os atores carecas, seguindo a minha concepção que corroborava a intenção de Heiner Muller, de situar a peça num salão antes da Revolução Francesa ao mesmo tempo que numa casamata após a terceira guerra mundial. A idéia da radioatividade, bem como a cor branca, quase morta, dos atores Harildo Déda e Joana Schnitman reforçavam minha concepção, bem como a luz e o cenário de outro professor que trabalhou na montagem, Eduardo Tudella.

Lembro de ter recebido abraços calorosos na estréia do espetáculo. Mas um me marcou, mais do que os outros, pela simbologia toda que girava em torno daquilo. Era Jurema Penna, que emocionada abraçava seu sobrinho e seu quase futuro colega de profissão.

Quase, porque Juju, como a chamávamos, havia me convidado para dirigir um texto seu, Procurando Maria, e chegamos a conversar com Eliana Pedroso e sondar algumas atrizes. Era incrível a confiança e desprendimento de Jurema. Ela me autorizou a cortar, mudar o texto. O que ela queria era fazer teatro. E havia me chamado para dirigi-la.

Três pessoas importantes. Duas que partiram, mas ficaram em mim. Uma que está aqui, mesmo estando em Rio de Contas.

Três pessoas que ajudaram a criar esse rascunho de artista que sou.


GVT.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muita saudade!
Dos que se foram e dos que estão ainda por aqui. A colega advogada Jurema de muitas tardes na Barra, na varanda de sua casa cheia de detalhes invisíveis aos olhos sem cuidado. Ela, eu, o Roberto Proaño e a Tânia Cordeiro, minha irmã canora (algumas vezes, o Betão) fizemos vários recitais a fôlego e cordas na sala da Jurema. O Alvinho, diretor de algumas noites muitíssimo agradáveis com Zozó Barata,Cris Veigga, Patrícia Assis e Dete, minha querida Claudete Eloy. Não falo em tom melancólico nem saudosista. Falo de lembranças vivas, que por não se apagarem, tornam-se eternas e não se deixam transformar em saudade. Mas como seria bom, sair de novo com a minha patrícia gaudéria Claudete, tão baiana quanto eu e lembrar junto os nossos encantos e desencantos de cena e vida!

(Geraldo Cohen)