quinta-feira, julho 19, 2007

ONDE ESTAMOS NÓS?

Por Jussilene Santana

Rita, engraçado, sentei aqui para responder ao seu post. Olha o que saiu... De todo modo, só pensei desta forma a partir das questões que você colocou. Fiquei procurando alguns porquês e achei estes... E sobre a sua prosa ter sido ‘longa demais’, não se reprima, para mim é sintoma de que ainda temos muito que PALAVREAR.
******
Acredito que a principal crise que atinge o Teatro Ocidental é a crise da representação. E tal crise atinge não apenas a nossa área artística/teatral, mas a todas as dimensões de nossa época – sobretudo a política: Quem nos representa? Quem está neste nos? Em nome de qual grupo estou falando? – sendo esta crise o nosso próprio Zeitgeist (em alemão, espírito do tempo).

Antes de tecer maiores comentários sobre isso, só quero ressaltar que falo sobre a crise que atinge o “Teatro Ocidental”, termo que, na verdade, é um pleonasmo já que ainda chamamos de ‘Teatro’ aquelas práticas espetaculares que retomam e/ou polemizam (não esqueçam!!) a tradição greco-romano-européia, ou seja, o Ocidente. As demais práticas, sobretudo as performáticas, neste Zeitgeist, andam gordas e bem nutridas.

O performer não representa ninguém. Está ali (ou melhor, aqui?) em seu próprio nome. O que comumente chamamos de ator é aquele ser que representa um OUTRO (alguém ou coisa). Registro apenas que esta foi a grande contribuição do grego Tespis há milênios. Tal criatura foi legada para nossa memória como o primeiro ator da História do Teatro Ocidental (sic). “No meio das dionisíacas, Tespis sobe numa pedra e diz: 'eu SOU Dionísio'. E a galerinha entra neste jogo”.

Como disse no post anterior, nos tempos que correm temos muita desconfiança com o que não pareça a COISA MESMA. Mas é evidente que, dada a condição humana, não conseguiremos escapar dos signos, das representações, visto que o mundo não se dá à nossa percepção todo de uma só vez. Não somos oniscientes e nem onipresentes. Habitamos um dado recorte espaço-temporal. Vemos aquilo que enxergamos. "Mas... e todo o RESTO?!"

Essa é a questão mesma do uso das palavras. Elas entram no lugar do que não vemos (coisas ou idéias). Quando emprego o termo OCIDENTE, não mostro o ocidente para vocês, e nem poderia... Talvez o Ocidente não passe mesmo de um amontoado de frases... Aliás, não esqueçam que todo este sentido que estou procurando organizar agora está sendo convocado a partir de... palavras.

De qualquer forma, esta crise da representação é provocada no Ocidente, grosso modo: 1 - a partir do encontro (nem sempre beligerante) entre as tradições culturais; 2 - pelas mudanças ocorridas nas formas de recepção (falo aqui especificamente do audiovisual).

O século XVI, com as grandes navegações, não foi a primeira oportunidade para as culturas se encontrarem, só deu início a mais radical, acelerada e constante delas. “De que maneira você está usando esta palavra? Curioso, não é assim que fazemos... Como se chama isso na sua língua? É assim que você faz?!!”

O que me parece realmente elucidativo é que a crise da representação atinja o Teatro, a Política e a Palavra. Simultaneamente.
Jussilene Santana
junesantana@gmail.com

10 comentários:

Anônimo disse...

Para vc, performance não é teatro?

Jussilene Santana disse...

Como disse no texto acima (Onde estamos nós), a PALAVRA teatro está ligada às "práticas espetaculares que retomam e/ou polemizam a tradição greco-romano-européia". A PALAVRA teatro está socio-historicamente associada às práticas espetaculares ocidentais, cujo marco foi o saber/fazer grego. E este saber/fazer, por sua vez, teve como base a encenação de textos trágicos e cômicos, ou seja, a encenação que ocorreu a partir do estabelecimento de uma dramaturgia.

Facilitando a encenação desta dramaturgia, aconteceu, antes, a separação entre o SER que desempenhava a ação (a pessoa mesma/ o ator) e o PAPEL que ela assumia (a persona, que era o nome de sua máscara, que é a raiz da palavra personagem). Um performer, por mais que não consiga se desvencilhar de signos e representações (humano e obra humana que é, visto por humanos) atua em seu próprio nome, e não em nome de um OUTRO.

Há um corte fundamental na instância de operação entre o primeiro em relação a quem o assiste. O que não há no segundo... A personagem (vivida por um ator) habita o plano ficcional, representacional; Já o performer está no mesmo plano da vida que seu público. Isso independentemente do local que o performer se apresenta. Talvez ele se apresente na rua, talvez num palco convencional (ou seja no Teatro, aqui como casa de espetáculo).

Corrijam-me se eu estiver errada, mas ´hoje´ há termos mais genéricos que englobam o "teatro" e a performance, como: espetáculo (já em grego, tudo aquilo que se mostra ao olhar) ou mesmo prática espetacular. Não esqueçamos que vivemos na Sociedade do Espetáculo, por conta desta sensação/possibilidade de tudo está sendo visto. Daí que os estudos sobre a "cena contemporânea" englobem tranquilamente ações no mundo não-ficional...

Não sei se a coisa toda está ficando mais confusa, mas só queria dizer o óbvio: Que a matriz grega é apenas uma matriz estética das artes do espetáculo e/ou da cena contemporânea. Para afastarmos qualquer dúvida, basta lembrarmos que a Pós Graduação da Escola de Teatro da Ufba, tentando contemplar, entre outras coisas, a pluralidade de saberes/fazeres, separa o campo em quatro:

1 - Matrizes Estéticas da Cena contemporânea
2 - Poéticas e Processos de Encenação
3 - Performance e fronteira/ Corpo e performance
4 - Dramaturgia, História e Recepção

Bom, vumbora falando...
Beijos,
ju

Anônimo disse...

Olá Jussilene,

Postei um comentário há dias mas não foi editado... HÁ minha brigas com a tecnologia... Enfim é melhor eu devorá-la antes que ela me devore!
Acredito que estas discussões têm que ocupar espaços mais visíveis no nosso tempo/espaço pois são vitais e urgentes...
Não poderei demorar muito na prosa, meu PC quebrou, enfim...
Consegui vislumbrar o seu caminho na tentativa de tentar encontrar algumas causas desta nossa "crise" e acredito que é por aí...
Discuto melhor com vc depois
Um abraço
Rita

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Jussilene Santana disse...

Rita, é este meu maior sonho. Ampliar o nível de alcance de um debate sério. Dar visibilidade para estas questões. Refletir.

Acabei de ler o scrap de Gideon ao texto de Gil. A maioria de nós não tem muita esperança...

Mas, em sala de aula, além do que ele fala, que eu concordo, também pude ver o contrário: alunos interessados, que não conseguem nadar até os (não conhecem) pontos de referência.

E que pena essa coisa do PC... Devore-a! Claro!

Abraço,
Jussilene

Anônimo disse...

Oi, Jussi!!!

E aí, leu o texto de Haddad? o que achou? ahhhh..to fazendo o curso de Gil lá na facul..mas a primeira aula pra mim foi dificilima...simplesmente travei... fora q to numa gripe terrivel...mas quem sabe não melhore?(até pq pior eu não fico...kkkk).

Um beijo e me diz realmente o que achou, tá?

Anônimo disse...

O seu blog me lembra aquele blog dos blogs, aquele de política do ig (se não me engano...). Dia desses vcs tem que fazer um encontro ao vivo com toda galera que participa!
abraços a todos

Jussilene Santana disse...

Simone, a dica foi muito bem acolhida! Deixa a gente organizar nossos horários que a gente vai fazer um encontro presencial regado a boa comida e com uma bebidinha, que ninguém é de ferro.
grande abraço,

Anônimo disse...

Oi Jussilene,

Parabéns aos dois pelo Doutorado! Acho muito bom os caminhos para solidificação do saber fazer deste teatro nu...

Olha só:
"O teatro vulgar não é realista, pois menospreza a observação. Os atores contemplam-se a si próprios, no seu íntimo, em vez de contemplarem o ambiente. Os acntecimentos decisivos que se desenrolam no mundo dos homens apenas lhe servem de veículo para uma exibição do seu temperamento etc." B. Brecht
Pis é tem tudo haver com a crise da representação, daquele primeiro ator surgido do coro, dos primórdios da nossa herança Ocidental, a fim de representar o OUTRO. Desta crise representação teatral que acaba se refletindo em tudo q nos cerca. Como vc mesma disse: Quem nos representa?
È muito fértil esta discussão, tinha q colocar este trecho de BB para corroborar com "a Coisa". Estou meio sobrecarregada devido a qualificação neste semestre, mas sempre q puder estarei por aqui...
Um abraço
Rita