Madrugada de uma sexta-feira 13 pra um sábado com cara de semana. Dedicado à minha tese, que pretendo concluir ainda em maio, e dividindo a atenção nela com os ensaios de Sargento Getúlio – é difícil mudar a sintonia na cabeça, acreditem – tomo cerveja e vinho. Nada demais. Uma ou duas taças de cada.
Antes mesmo disso, escutava, para passar o tempo e chegar o sono, um pouco de música pra descansar a cabeça da herança do Absurdo e seus vestígios no drama contemporâneo; minha tese. Após ouvir um dos momentos de maior inspiração do século XX, o concerto/CD Nude ants, resolvi ouvir o quarteto de cordas op.56, Voces intimae, de Jean Sibelius.
Esse compositor finlandês, que parece sempre compor desenhando auroras boreais, fez este quarteto que, junto aos dois de Leos Janacek, são um resumo da música moderna. Unir a dor ao etéreo é pra poucos, e as vozes íntimas de Sibelius começaram a me tocar até chegar o terceiro movimento, o adagio di molto. A beleza foi me tomando e comecei a pensar sobre meu ensaio de hoje.
Ainda em fase de leitura, hoje foram ao ensaio o iluminador da peça, Eduardo Tudella, e o compositor da trilha, Ivan Bastos. Quando Carlos Betão terminou o texto, a conversa que se iniciou, ali, foi tão poeticamente eficiente e criativa para o processo, que a música de Sibelius me remeteu de novo a ela.
Ouvir Ivan Bastos falar de teatro – ele analisava a montagem do texto de Claudia Barral, Sal, pimenta, alho e noz moscada, feita pelo Teatro NU –, e ouvir Tudella falar de música – ele citava o Don Giovanni de Mozart e Os planetas de Holst –, tudo aquilo me deu uma alegria imensa.
Estar ao lado desses artistas, com sensibilidade e cultura tão ampla e consistente, me diminuiu da melhor forma que podemos ser diminuídos. Vamos ao nosso centro, às nossas falhas e faltas, e agradecemos por existirem pessoas que possam fazer você crescer.
A arte nos transporta à beleza, ao que perdemos de telúrico e ao que não ganhamos de etéreo. Faz a gente crescer pra dentro.
Eu ia escrever um simples comunicado à meia dúzia de três ou quatro que acompanham o blog, avisando que por conta da fase final de escrita do doutorado, eu e Jussilene Santana estávamos em recesso de escrita para o Teatro NU. Também que assim que eu desse o ponto final na versão da tese que vai ser massacrada pela banca, eu iria voltar a pleno vapor.
Mas Sibelius não deixou.
Um comentário:
Sua escritura é como um Oasis num sertão longínquo. Existem passagens e momentos de extrema aridez e secura, mesmo assim arroubam a minha angustia criativa. O exercício artístico de provocação umedece a passagem durante a ida ao deserto. Essa lenta umidade fez brotar musgos e flores no mais duro caminho cimentado . Agradeço por existirem redatores como você e Jussilene Santana.
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