segunda-feira, maio 17, 2010

UNDERGROUND faz 15 anos

O filme Underground, de Emir Kusturica, completou 15 anos, agora em 2010.

15 anos se passaram, mudou-se a década, o milênio, e por mais que muitos queiram, ainda vivemos os ecos do pós-segunda guerra mundial. Nem a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética foram suficientes pra mudar o panorama mundial.

Uma ordem mundial só muda quando as urgências são outras. E, infelizmente, o filme de Kusturica está debutando atual e necessário.

Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, quando ainda não se premiava Michael Moore e outras bobagens, este foi o segundo prêmio do cineasta, chegando ao status de ganhar duas palmas de ouro, feito só realizado por mais dois ou três cineastas do mundo.

Kusturica consegue ser uma mistura de Bertolt Brecht com Federico Fellini. De Eugène Ionesco com Ettore Scola. Sem a mínima preocupação com o que herdou, o cineasta sérvio conseguiu chegar ao patamar de ser um dos maiores cineastas do mundo, de todos os tempos.

Se me perguntassem sobre quais obras cinematográficas me inspirariam mais, dentre todas já feitas, Underground estaria entre as três. Para as outras duas vagas a briga seria boa entre filmes de Scola, Bergman, Fellini, Tarkóvsky, Greenaway, Sokurov, e talvez eu não soubesse listar.

Acabei de ver o filme, e me emocionou mais do que das primeiras vezes. É impressionante como o cineasta consegue unir o trágico e a bufonaria, a festa e a dor, e fazer um filme que mexe com todos os sentimentos de uma vez.

Ser político sem ser panfletário, ser trágico sem ser melodramático, ser poético sem ser cafona, ser palhaço sem ser ridículo.

Se todos os artistas conseguissem dosar isso, com certeza teríamos obras mais complexas, desatreladas de ideologias, modismos, questões politicamente corretas e idéias rasas.

Nas mais de duas horas e meia de filme, Kusturica tem muito a nos dizer. É clara e evidente a complexidade do tema que ele aborda, pois ele está falando de si, de sua dor, mas criando uma fantasia para isso. É um fingidor que chega a fingir que é dor a dor que realmente ele sente pelo seu país, pelo seu povo.

Adoro arte política, mas só tenho visto arte ideológica.

Adoro arte que emociona, mas só tenho visto melodrama.

Adoro arte com humor, mas só tenho visto humor sem arte.

Underground é uma lição de como se fazer uma obra-prima se utilizando dos elementos da arte sem que eles pareçam gastos, rasos, maneiristas.

Consistência. Complexidade. Conhecimento. Esses são os princípios da arte. Só consigo ultrapassar a barreira do racionalismo na arte quando esses princípios são alcançados. Aí, então, sou pura emoção.

Só, então, “a minha alma sangra”.

Vejam, revejam o filme. As lágrimas de vocês serão as mesmas que as minhas.



GVT.

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