sábado, setembro 06, 2008

CENA I

I - CENA DAS MÃES

M1- E ele só estava voltando pra casa...

M2- Sempre confiei nele, afinal, era meu marido...

M1- Eu juro que ele nunca teve entrada na polícia...

M2- Não esperava entrar em casa e ver o que eu vi...

M1- Nunca vi fazer desordem...

M2- A cama toda desarrumada...

M1- Calma moço, foi assim...

M2- Comecei a me tremer toda...

M1- Era um domingo, e ele sempre saía de casa com os amiguinhos dele... era bom rapaz, isso eu posso garantir... foi pra uma festa lá no clube...

M2- Ele bebia demais, eu admito, mas sempre tratou a gente com muito carinho... eu não ia ouvir o que as vizinhas estavam dizendo, sabe como é esse povo... eu sei que eu confiei demais...

M1- Nunca foi de arruaça, eu posso garantir pro senhor, ele queria ser advogado, trabalhava vendendo cuscuz na rua, mas sempre estava cedo em casa. Olha, eu juro pro senhor que ele nunca foi de ficar até tarde na rua, pelo contrário, voltava cedo pra trazer o pão. Isso quando ele vendia alguma coisa, claro né, o senhor sabe como tá difícil vender qualquer negócio hoje em dia, o povo não tem dinheiro pra comprar e a gente fica sem dinheiro pra comer... ah!, mas digo ao senhor que ele nunca roubou, nem ele nem os coleguinhas...

M2- Era motorista de ônibus, o desgraçado. A gente se juntou faz dois anos e ele até brincava que os peitinhos dela estavam crescendo e eu achando que era carinho de pai, sei lá, ele dizia que se sentia pai, comprava queimado pra ela, muita roupinha... ah!, engraçado que as roupas que ele comprava eram sempre curtinhas, sainha, topizinho, e eu nem me apercebia... até achava bonito quando ele botava a menina no colo...

M1- Nesse dia ele até me disse: “ó, mainha, esse trocado que eu peguei não é muito não, se der eu até trago o pão pra senhora”. Os meninos até esculhambavam com ele, nesse dia mesmo, ficaram dizendo que iam tomar tudo de cerveja, mas assim na minha frente, sabe, moço, foi coisa de perturbação, eles não eram dessas coisas não, meu menino sempre foi respeitador... o outro lá, que deus me perdoe, é que estava endiabrado... homem com arma se acha homem duas vezes, ainda mais quando é da polícia, você sabe, né!? Eles abusam mesmo...

M2- Mas nunca imaginei que ele abusasse dela... quando bebia, ele sumia de casa, só voltava no outro dia, chegou até a ir pro trabalho direto. Ele às vezes trocava turno, dizia que era pedido do chefe e a gente não se encontrava em casa, acho que eram nessas horas que ele, sei lá, prefiro não falar... desculpa moço...

M1- E foi assim, o menino voltava da rua, só bateu boca com o motorista, coisa de parar fora do ponto, menino o senhor sabe, né?, tudo perturbado, estava com os coleguinhas, parece que os policias não gostaram...

M2- Eu entrei em casa e vi tudo escuro, já era hora da minha menina ter chegado...

M1- O polícia desceu junto com os meninos, o motorista parou...

M2- Eu entrei no quarto ouvindo aquele chorinho...

M1- Eu soube que teve até gritaria...

M2- E os dois lá...

M1- Foi um tiro só...

M2- Tinha que ser com ela!?

M1- E foi isso...

M2- E foi...

M1- E...

M2- Desculpa, moço...

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