TEMPO PARTIDO
Ildásio Tavares
Não é, Drummond, um poeta da minha predileção. Já foi. Até os 30 anos, mais ou menos quando me exilei nos Estados Unidos e fiz meu mestrado em literatura de língua inglesa, aguçando minha percepção. Mas é inegável que este azedo bardo mineiro produziu alguns poemas significativos para a época – com verdades incômodas. Num desses , ele fala em um tempo partido, tempo de homens partidos. Este poema me impressionou quando eu tinha 18 anos. Na verdade, o texto explora uma conotação do primeiro grau. Partido (político) conota quebrado (partido), e se esgota aí Um recurso fácil, um trocadilho bobo, mas eficaz,para censurar a desunião.
Entretanto, os partidos políticos cada vez mais se fragmentam; se dispersam política e ideologicamente, assumindo a característica de verdadeiros samba-enredos do carnaval carioca, uma música de fachada dividida com inúmeros parceiros, cada um reclamando a autoria do samba.Não há um só partido político que possua verdadeiramente uma fisionomia, uma plataforma, um projeto.
Todos não passam de agrupamentos heterogêneos, dançando de acordo com a valsa fisiológica da conquista do poder e, lá em cima, do frevo da manutenção. Ninguém quer governar coisa nenhuma.
Farinha pouca, meu pirão primeiro, bradam os sobrinhos de Jânio,. O avanço ao cabide de empregos chega a fazer vergonha. O Brasil que se dane. Nada pode ser feito enquanto o país não é loteado pelos vorazes membros do MSC, Movimento Sem Cargo, antes relegados ao ostracismo da oposição, agora situação, querendo emprego no grito e no tapa, indiferentes ao quesito competência. Começa a caça às bruxas e a pichação. Na época da Ditadura, por dá cá aquela pedra, o cara era tachado de comunista e, no mínimo, sofria o vexame de um interrogatório. Agora o piche é carlista. Ele é carlista, vocifera o postulante, como recurso imediato para desobstruir o cargo desejado.
Uma das praxes socialistas é a de suprir o talento individual com o talento partidário, numa transposição da luta de classes do plano econômico para o intelectual, os medíocres unindo-se contra uma pessoa de talento que, por esse falso socialismo, não deve ter cargos nem privilégios. Na Revolução Cultural, Mao botou filósofos e cientistas de alto nível pra limpar cocô de cavalo em estrebarias. A sorte foi que não botou cavalariços para filosofar Bastava ele.
Há algum tempo atrás, o poeta Capinan, uma das melhores cabeças deste país, concorria ao cargo de secretário do então PCB, o partidão. O outro candidato era um zeloso militante, mas intelectualmente medíocre. Um destacado comunista, em conversa comigo, disse que ia votar neste último. Intrigado, aleguei que Capinan era muito mais dotado que o outro, além de ter representatividade nacional. “Por isso mesmo,” o impávido eleitor redargüiu, “Capinan não precisa do cargo” Esta lógica de privilegiar o clero ,compensando com cargos a falta de talento é um dos fatores da derrocada do socialismo real.Drummond estava certo. Inteiro, só mesmo o Partido Alto.
Um comentário:
estou lendo o Blog!
Laila
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