sexta-feira, março 23, 2007

Um excelente filme médio

Está em cartaz, na sala Walter da Silveira, o filme Em segredo, vencedor do Urso de Ouro de Berlim em 2006.
Porque um filme médio. A diretora e roteirista Jasmila Zbanic não tem pretensão de ser genial, e nem mesmo o filme tem essa vocação. É um simples filme sobre a vida de uma mãe solteira com sua filha, em meio às misérias de uma ex-Iuguslávia esfacelada, empobrecida e desestruturada. Situações cotidianas, relações normais, crises redundantes, tudo isso com uma câmera segura, tão segura a ponto de não aparecer; uma direção de arte muito bem-feita; figurinos bem escolhidos; roteiro discretamente redondo, enxuto, seguro.
Um filme médio; mas excelente. Todas as características que o tornam médio fazem dele um filme especial. Porque o médio é bem-feito, como geralmente não se vê no cinema mundial que pretende tratar de casos particulares, familiares, desesperados, miseráveis, etc.
O filme não realça os dramas do cotidiano com cenas desesperadas, músicas de fundo, clichês românticos e dramatúrgicos. Pelo contrário, o filme surpreende justamente pelas cenas onde o espectador imagina tudo, menos o simples, o médio, o excelente que acontece.
Cenas sensíveis. Bem escritas, interpretadas e filmadas. Coisa rara de se ver no cinema atual, que sempre escapole pro clichê barato ou pro não acontecer dramático, como se a não resolução de conflitos fosse uma salvação para fugir do melodramático.
Prêmios não indicam qualidade. Muito menos coerência. Menos ainda exprimem um reconhecimento por um trabalho acima da média, mesmo sendo médio. Por isso esqueçamos o Urso de Ouro. O que vale no filme é que vemos a realidade de um país, sem maniqueísmos, sem peninha dos pobres e fracos e sem mensagem de que o capitalismo malvado acaba com a vida dos coitadinhos. Através da dignidade, simplicidade e realidade de uma mulher, entendemos seu país, seu mundo, que é nosso mundo, nosso país, nossa casa.

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