domingo, setembro 24, 2006

Notas sobre a montagem de Os Amantes II


Cada vez mais eu percebo que o que difere o teatro da dança e da performance é justamente a busca de um teatro mínimo. Este termo, que não sei se foi usado anteriormente – mas pela obviedade deve ter sido – significa trabalhar o pequeno, o íntimo, a entrelinha do que se pode dizer.
No meu atual processo de montagem, estou me deparando com um processo inteiramente novo, que é dirigir uma peça minha, em caráter profissional. A insegurança de me limitar na criação pelo fato de eu ser o autor foi substituída pelo prazer de – trabalhando com três atores generosos, talentosos e dispostos – buscar no mínimo, no íntimo, aquilo que o teatro pode fazer melhor do que ninguém: transformar o verbo em carne.
Não sou daqueles puristas que pensam um teatro pobre, sem imagens, e a prova disso foi minha última montagem, no Vila Velha, de clássico de Wedekind, O Despertar da Primavera (conferir foto da montagem acima). Contudo, nada é mais “teatral” do que este jogo íntimo dos atores. Nada substitui o trabalho incessante de criação de cenas, de atmosferas a partir da dissecação de um texto, de uma palavra, de um diálogo.
As imagens podem funcionar, emocionar e entreter, mas penso que a força do teatro não está nisso, e sim no seu poder de seduzir pelo gesto, pela palavra. Instalações podem dizer muito, coreografias também, e a imagem está à disposição delas, mas este trabalho íntimo do ator é sua pedra de toque.
Percebo que cada vez mais eu procuro este teatro mínimo. Mesmo no Despertar, a despeito de luzes, panos e formas, foi no trabalho delicado e dedicado com o ator que tentei despetalar o texto de Wedekind. É isto que pra mim é o mais importante do teatro. É nisto que está sua magia.
A espetaculosidade dos nossos dias, com filmes fantásticos, espetáculos suntuosos e propagandas mirabolantes, faz com que nosso olhos se viciem na imagem e esqueçam o conteúdo, o que está sendo dito, e, principalmente, como está sendo dito. Foucault já dizia que a palavra é a coisa. No teatro, ela é a essência. E não me venham com história de mímica. O gesto é a palavra deste teatro; e tem que ser bem dito.
Gostei deste termo: teatro mínimo. Mais do que essencial, mínimo. Penso ser esta a arte que o Teatro Nu procura. No mínimo.

GVT.

Um comentário:

Anônimo disse...

Jussi e Gil
Legal, muito legal o lançamento do blog. Ainda mais começando com a matéria da Escola. E, de quebra, o coquetel molotov do Hackler, que dá prazer de ler, ainda que mais não seja só pra ver o circo pegar fogo... rs. Que o blog tenha vida longa, independente até das montagens.
Por falar nisso, boa sorte pr'Os Amantes II. Estarei lá.
E por último, uma irresponsável provocaçãozinha, acerca desse texto de Gil (Teatro Mínimo): É-por-causa-de-quê, mesmo (eu não me lembro), que a gente tem que ficar fazendo eternas diferenciações entre teatro / dança / performance? É pra não confundir os jornalistas que classificam os tijolinhos do jornal?!
Beijos e axé
Jacyan